Os ingleses não se cansam de repetir: eles inventaram o futebol. Mas, embora seus clubes brilhem, sua seleção só alcançou a glória uma vez, na Copa do Mundo de 1966 disputada em casa. Demorou mais de meio século para que os ‘Três Leões’ retornassem a uma final de um grande torneio.

. Um título e uma polêmica

Depois de uma partida difícil nas quartas de final contra a Argentina (1-0), uma dobradinha de Bobby Charlton contra Portugal de Eusébio (2-1), a equipe de Alf Ramsey enfrenta na final a Alemanha de Franz Beckenbauer e Uwe Seeler. Com 2 a 2 no tempo normal, a prorrogação traz uma das maiores polêmicas da história do futebol. Um chute de Geoff Hurst atinge o travessão e quica na linha do gol… ou atrás dela. As imagens continuam não esclarecendo as dúvidas. Depois de consultar seu assistente, o árbitro confirmou o gol. A Inglaterra ainda marcou mais um e venceu por 4 a 2. Mas aqueles torcedores em êxtase no estádio de Wembley não imaginavam o jejum que viria pela frente.

. Vacas magras

A Inglaterra vive um pesadelo na Copa do Mundo de 1970: nas quartas de final, quando vencem por 2 a 0 até o segundo tempo, os alemães se vingam do ‘Wembley Tor’ de 1966 com gols de Beckenbauer, Seeler e Gerd Müller na prorrogação. No gol, Peter Bonetti inaugura uma tradição: a dos inseguros goleiros ingleses.

Eliminados nas quartas de final da Euro-1972 contra os mesmos alemães em Wembley (3-1), os ingleses perdem as Eurocopas de 1976 e 1984 e caem na primeira fase em 1980. As Copas do Mundo de 1974 e 1978 também são disputadas sem eles. Em 1982, a Inglaterra se despede na segunda fase, depois de dois empates em 0 a 0, contra Alemanha e Espanha.

. ‘Mano de Dios’ e maldição dos pênaltis

A Copa do Mundo de 1986 é o da promessa de renovação, com Gary Lineker como ponta de lança, Terry Butcher, Chris Waddle. Mais uma vez, eles são os protagonistas de uma grande polêmica, mas desta vez do lado perdedor. Diego Maradona marca com a mão, a ‘mão de Deus’, diz ‘El Pibe de Oro’, antes de marcar o chamado ‘gol do século’.

Promissor, este primeiro torneio da era Bobby Robson será seguido por decepções, a mais cruel sendo uma eliminação contra a Alemanha na Copa do Mundo de 1990 nas semifinais.

A maldição se repete na Euro-1996. De novo contra os alemães e de novo nos pênaltis. Com o imprevisível Paul Gascoigne e o atacante Alan Shearer, os ingleses acreditaram, cantando pela primeira vez o hino “Football is coming home” (O futebol está voltando para casa).

. Geração não tão dourada

Chega a era da “geração de ouro”: Rio Ferdinand, John Terry, Ashley Cole na defesa, Steven Gerrard, David Beckham, Frank Lampard, Paul Scholes, Wayne Rooney, Michael Owen… Na Copa do Mundo de 1998, Owen marca um lindo gol nas oitavas de final contra a Argentina. Mas Beckham cai na armadilha da provocação de Diego Simeone, revida, recebe o cartão vermelho e a Inglaterra é eliminada nos pênaltis depois.

Após essa traumática eliminação vem o fracasso da Euro-2000 (eliminação na fase de grupos), a decepção nas quartas-de-final contra o Brasil em 2002.

O recurso, visto como ‘sacrílego’, a técnicos estrangeiros (Sven Goran Eriksson e Fabio Capello) não impede a repetição de erros. As competições são enfrentadas com tambores e trombetas, mas a volta para casa acontece com a cabeça baixa.

Na Euro-2004, os ingleses são eliminados por Portugal… nos pênaltis. Cenário que se repete na Copa do Mundo de 2006, depois de um cartão vermelho para Wayne Rooney. E novamente nos pênaltis eles caem diante da Itália na Euro-2012.

As competições são uma sucessão de fracassos: contra a Alemanha nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010 (4-1), e uma eliminação na fase de grupos em 2014. Antes desses mundiais a Inglaterra sequer havia se classificado para a Euro-2008 após uma derrota vergonhosa em Wembley para a Croácia.

. Southgate, o inesperado arquiteto

Após a eliminação diante da Islândia na Euro-2016, a Inglaterra não parece estar no caminho da redenção. Tanto que Sam Allardyce renuncia ao cargo de treinador, atingido por um caso de corrupção.

Gareth Southgate assume as rédeas, primeiro como interino. Ele escala jovens como Trent Alexander-Arnold, se apoia em estrelas como Harry Kane.

Balanço dessa mudança: a Inglaterra chega à semifinal da Copa de 2018 na Russia e à grande decisão da Euro-2020. A torcida espera agora que o grito ‘Football is coming home’ se torne uma realidade com a taça sendo erguida em Wembley no domingo, após o longo jejum de 55 anos.

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