O cemitério de Gondar, no noroeste da Etiópia, não era para ser tão grande. Os milhares de judeus etíopes enterrados ali esperavam viver e morrer em Israel, mas uma série de obstáculos frustrou esse sonho.

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“Espero que Israel assuma suas responsabilidades antes que todos morramos aqui”, disse Sitotaw Alene, de 49 anos, à AFP, durante uma visita a um cemitério em Gondar, onde sua irmã está enterrada.

Recentemente, uma operação entre dezembro e março permitiu a transferência de 2.000 judeus etíopes para Israel. Mas é uma pequena fração dos candidatos à aliyah – imigração judaica para Israel – e no momento não há mais operações planejadas.

Sitotaw alerta que as autoridades israelenses devem agir rapidamente, antes que seja tarde demais para ele e o resto da comunidade.

“O que me preocupa é que o cemitério está quase cheio”, diz ele. Em pouco tempo, “não teremos nem espaço para um túmulo”.

Grande parte da comunidade judaica etíope chegou a Israel nas décadas de 1980 e 1990. Alguns foram transportados em voos secretos através de campos de refugiados no vizinho Sudão. E mais tarde a operação “Salomão” permitiu o transporte de quase 15.000 etíopes para Israel.

Os que permaneceram na Etiópia são chamados de “Falash Mura”, termo depreciativo que destaca que são descendentes de judeus que se converteram ao cristianismo, muitos deles à força.

Eles se consideram judeus, mas as autoridades não os reconhecem como tais. Dessa forma, eles não podem se beneficiar da lei de retorno, que garante a qualquer judeu o direito de imigrar para Israel.

Eles só podem ir para Israel como parte de uma reunificação familiar, que envolve ter um parente no país. As autoridades israelenses estão examinando uma lista de espera de cerca de 8.000 candidatos à imigração.

Os líderes da comunidade judaica etíope dizem que há muito mais: eles ultrapassam os 10.000 somente em Gondar e há cerca de 3.800 na capital, Adis Abeba.

– Sair, o quanto antes –

Em Gondar, os judeus etíopes sobrevivem com trabalhos ocasionais.

Mas os membros da comunidade têm uma ideia fixa: ir a Israel assim que puderem.

Nigist Abege, de 46 anos, diz que “não perderá nada” na Etiópia se conseguir ir para Israel, onde vivem seus parentes. “Meu único desejo é ver minha família”, afirma.

Quem realiza seu sonho também tem desafios pela frente.

Membros da comunidade etíope em Israel reclamam de discriminação racial e abuso policial.

Nigussie Alemu, que trabalha na sinagoga Hatikvah, conhece muito bem as dificuldades dos etíopes em Israel porque trabalhou no país como professor.

A educação, diz ele, é a chave para superar o inevitável “choque cultural” que aguarda os recém-chegados.

“Muitos etíopes em Israel são analfabetos até na sua língua materna”, explica ele.

Os judeus de Gondar preferem colocar o racismo de lado e focar no positivo.

“Quando fui, foi como um renascimento”, explica Ayele Andebet, de 23 anos, que passou seis meses em Israel em uma yeshiva, um centro de estudos do Talmud. Ele quer voltar para ficar.