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O talento do carioca Geovani Martins tem sido recompensado: seu primeiro livro, O Sol na Cabeça, de 2018, foi publicado por grandes editoras em dez países e está sendo adaptado para virar série no streaming. É triste imaginar, porém, que a voz de um dos maiores expoentes da literatura brasileira na atualidade poderia ter sido desperdiçada se ele não tivesse se esforçado para participar da Feira Literária das Periferias (Flup), em 2013. O encontro lhe rendeu o convite para escrever contos à revista independente Setor X, pontapé inicial em sua carreira profissional. Na época, Geovani, nascido no Bangu, zona norte do Rio de Janeiro, era atendente de lanchonete e de barraca de praia. O mercado, portanto, aguardava com expectativa o seu primeiro romance, que sai agora: Via Ápia é brilhante e prova que o sucesso do primeiro livro não foi acidental. Talvez seja cedo para elevá-lo a patamar tão alto, mas a forma como o autor eterniza a realidade dos morros cariocas lembra a forma como Jorge Amado tratou o litoral baiano ou a maneira com que Itamar Vieira Junior jogou luz sobre o sertão da Chapada Diamantina, em Torto Arado. É o registro único de um universo muito específicio, um dialeto que exala verdade mesmo quando releva liturgias gramaticais. É um texto vivo, pungente, triste, como as vidas que ele se propõe a retratar.

Um drama urbano em três atos

Via Ápia é um romance dividido em três partes: na primeira, cinco jovens sobrevivem como podem, ora “curtindo um lazer”, ora fazendo bicos para contribuir com as despesas domésticas. A segunda aborda a midiática chegada à Rocinha da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), com todas as mudanças que causou aos moradores. A terceira parte marca o abandono da favela pela polícia, com a retomada do cotidiano anterior, sem melhorias palpáveis para a comunidade.