A operação que a Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira, 19, voltou a implicar Jair Bolsonaro (PL) em uma tentativa de golpe de Estado que o manteria no poder depois da derrota nas eleições de 2022.

Quatro militares do Exército e um policial federal foram presos preventivamente na Operação Contragolpe pela suspeita de tramar as execuções do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do Supremo Alexandre de Moraes em dezembro de 2022, antes da posse do petista.

As apurações deram continuidade à Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro de 2024, e ampliaram a participação do ex-presidente na elaboração de um documento para planejar a ruptura, como o site IstoÉ relata neste texto.

+Militares cogitaram envenenamento, armamento pesado e explosivos para as execuções

+‘Pensar em matar alguém não é crime’, diz Flávio Bolsonaro

O golpismo do ex-presidente

Em sua tentativa frustrada de reeleição, Bolsonaro coordenou uma estratégia de ataque dos integrantes do governo ao sistema eleitoral, convocou embaixadores para uma reunião em que descredibilizou as urnas eletrônicas — razão que o tornou inelegível até 2030 — e levou dois dias para reconhecer o resultado do segundo turno.

Mas foi mais de um mês após a derrota, em 6 de dezembro de 2022, que o então mandatário esteve no Palácio do Planalto com o general da reserva Mário Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante sua gestão, que na ocasião imprimiu um documento com o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que descrevia as execuções das autoridades em 15 de dezembro, seguidas da instauração de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise”, a ser integrado pelos próprios golpistas para gerir conflitos institucionais e consumar a ruptura democrática, de acordo com a PF. Fernandes foi preso preventivamente nesta terça.

Também participaram desse encontro o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, e o major Rafael Martins de Oliveira, formado em Forças Especiais (os “kids pretos”, grupo de militares treinado em operações de contra-inteligência, insurreição e guerrilha) e um dos designados para encabeçar a operação. Foi no celular de Cid que os policiais coletaram as informações sobre a trama.

Em 9 de dezembro, Bolsonaro se reuniu com Estevam Theofilo, general que, na ocasião, comandava os kids pretos, para planejar a consumação do golpe — informação revelada pela Tempus Veritatis. Em seguida, o então presidente teve acesso a uma minuta em que constava o suposto embasamento jurídico à ruptura democrática, e ficou com ela para fazer análises e alterações.

Bolsonaro editou o documento, segundo os policiais, antes dele ser enviado ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, cujo endosso seria fundamental para a consumação do golpe — o que não ocorreu, apesar conivente de Gomes com declarações e atitudes golpistas.

A investigação ressaltou ainda que Mário Fernandes tinha “estreita proximidade” com o então chefe do Planalto e, depois de apresentar o planejamento operacional do golpe, enviou mensagens a Mauro Cid para comemorar que Bolsonaro “aceitou o assessoramento” de seu grupo. Segundo os policiais, Fernandes era o “ponto focal” entre o político e os manifestantes golpistas, que na ocasião ocupavam acampamentos em frente a quartéis do Exército com a anuência de militares ligados ao governo.