O país voltou ao normal, não o nosso, claro, mas os Estados Unidos. Programas de auditório, por exemplo, começam a receber uma platéia cheia e sem máscara, desde que as pessoas estejam completamente imunizadas. As vacinas aplicadas no país têm alta porcentagem de eficácia, mas mesmo assim, elas apenas previnem os casos graves da doença e diminuem o risco de morte. Ou seja, o vírus ainda circula e os não vacinados ainda correm risco. De qualquer forma, o Brasil deveria se espelhar no exemplo americano.

Lá, o ditado popular “de graça até injeção na testa” não tem muito valor. Afinal, ainda há os que colocam em dúvida a eficácia da vacina. Muitas crianças nascem e crescem sem tomar nenhum imunizante com medo de que eles possam causar autismo. Fato já desmentido pela ciência em centenas de estudos. Aliás, os diversos incentivos para a vacina contra o coronavírus, como prêmios de loterias, ingressos e lanches grátis não serão suficientes para que se atinja a meta do presidente Joe Biden de ter 70% da população vacinada com pelo menos uma dose até o dia 04 de julho, feriado da independência americana.

Apesar dos EUA ainda serem os detentores do maior saldo de mortes na pandemia (600 mil óbitos desde março do ano passado), os americanos consideram-se livres para fazer o que bem entenderem, inclusive sem o uso de máscaras, já que a doença aparenta estar sob controle. A taxa média de mortes da última semana foi de 339, em um país de 330 milhões de habitantes, o que é um índice muito reduzido. Quem assistiu ao programa noturno “The Late Show with Stephen Colbert”, uma espécie de “Jô Soares”, ser apresentado com casa cheia, em seu teatro na Broadway na noite desta segunda-feira, deve ter sentido que por lá a pandemia acabou. O apresentador pega na mão de diversas pessoas, até abraça uma senhora, sem passar álcool em gel em nenhum momento. O local lotado, pleno de gritos, aplausos e gargalhadas, parece uma volta ao passado ou até de cenas de um futuro distante. Isso significa que a vida voltará ao normal como esse programa televisivo deu a entender?

Muita gente por lá ainda questiona se as autoridades não estariam se precipitando com a adoção dessas medidas tão amplas de abertura? A política de não usar máscaras para os vacinados é um risco para quem não pode ou não quer tomar o antídoto. A verdade é que muitas pessoas ainda irão morrer por lá, mas o governo americano está assumindo o risco e apostando que não haverá colapso nos hospitais e nos cemitérios. Novas mortes por Covid-19 devem ficar, a partir de agora, restrita aos negacionistas que ainda recusam o único tratamento possível até aqui: a vacina.

Que os negacionistas brasileiros aprendam pelo menos essa lição. Pois com uma população bem menor que a americana, o Brasil, infelizmente, tende a alcançar um número bem maior de mortes se as vacinas não chegarem a tempo e muitos se negarem a serem imunizados. É possível que aqui, como lá, até voltaremos ao normal, mas qual será o número de mortes diárias que vamos considerar como “aceitáveis”? Por ora, vivemos uma tragédia sem uma solução a curto e médio prazo, já que vacinamos a passos de tartaruga.