Trava-se neste momento uma disputa intestina e encarniçada no Inep. O órgão, responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), virou o principal palco da guerra cultural promovida pelo governo Bolsonaro, que quer mudar a história nacional e negar evidências científicas na educação pública brasileira. O Inep vive um clima de caça às bruxas com pedidos
de demissão em massa e vem sendo sistematicamente aparelhado por forças de extrema direita, trabalhando para promover uma lavagem cerebral nos estudantes. Revisionismo histórico e censura são as armas da atual burocracia do Ministério da Educação, comandado pelo pastor Milton Ribeiro, que teria atuado para modificar duas dezenas de questões da prova, cuja primeira etapa, com redação e testes de linguagens e de ciências humanas começa domingo, 21.

Em Dubai, Bolsonaro disse que as provas do Enem agora estão do jeito que ele quer, com “a cara do governo”, provavelmente chamando a ditadura de regime militar em questões de história e tratando torturadores como herois. No dia seguinte, ele desmentiu o despropósito e negou qualquer interferência, deixando todos sem saber em que versão acreditar.

Em Dubai, Bolsonaro disse que as provas do exame agora estão com a cara do governo, provavelmente tratando torturadores como heróis

O ministro Milton Ribeiro e o presidente do Inep, Danilo Dupas insistem em falar que não houve interferência, embora tivessem dado indicações, desde junho, de que pretendiam praticar algum tipo de censura na prova e alinhar o exame com a ideologia do governo. A prova disso é que, segundo Bolsonaro, “ninguém precisa ficar preocupado. Acabaram aquelas questões absurdas do passado, quando caíam temas na redação que não tinham nadaa ver com nada”.

O que o governo Bolsonaro tenta fazer é próprio de regimes totalitários e de períodos de trevas. Seu objetivo é impor uma visão de mundo distorcida e baseada nas suas crenças e conceitos ultradireitistas para toda a população brasileira. Na estratégia do governo, joga-se às favas o conhecimento acumulado ao longo dos 23 anos de realização do exame. Substitui-se também a pesquisa científica pela manipulação da história e a cultura do ódio. Na sua guerra cultural, Bolsonaro quer aniquilar o bom senso. Resta saber que tipo de assunto o Enem trará nas provas deste fim semana e qual será o tema de redação. Logo veremos o tamanho do estrago.