A jornada de Marino, anestesista em uma unidade de COVID-19 em Roma

A jornada de Marino, anestesista em uma unidade de COVID-19 em Roma

Expõe-se ao vírus, se esgota com o peso da roupa que usa por horas, tem medo de infectar seus próprios familiares, mas ao mesmo tempo sabe que sua jornada árdua é útil e salva vidas.

Um dia de trabalho de Marino De Rosa, anestesista em uma unidade COVID-19 do hospital San Filippo Neri de Roma, geralmente é longo.

“Temos turnos de seis a doze horas”, conta o médico de 54 anos, casado e pai de dois adolescentes, que a AFP acompanha desde sua entrada no edifício B do enorme hospital romano, no norte da capital.

Desde o início de fevereiro, quando foram detectados os primeiros surtos da epidemia, a equipe especializada do hospital deve respeitar uma série de medidas de higiene rigorosas e excepcionais.

A rotina mudou para todos e devem usar máscaras, luvas, óculos, roupões, material esterilizado e desconfortável que se transforma em um peso insuportável depois usá-lo por horas.

“Trabalhar 12 horas seguidas nessas condições é quase impossível”, confessa.

“Te aperta, a máscara te impede de respirar corretamente, os óculos embaçam, é difícil ler ou escrever. Depois de cinco horas tive que sair da sala, estava exausto”, conta.

“Tentamos não exceder as três horas e meia ou quatro com essas roupas”, que causam muita dor de cabeça e secam a boca, explica.

O serviço COVID-19 onde Marino trabalha conta com 20 leitos, 14 dos quais estavam ocupados na quarta-feira.

Se trata de uma unidade de terapia intensiva e não de uma unidade de reanimação. Alguns pacientes precisam da ventilação mecânica e não foram intubados.

“O contato com o paciente é apenas visual. Conversamos, ele descreve seus sintomas, o que sente, temos um dispositivo que nos permite medir seu nível de oxigênio no sangue, o que nos dá uma ideia da evolução de sua insuficiência respiratória”, explica.

“Mas falta o exame físico, que neste momento é difícil ou impossível de fazer com o estetoscópio, que é fundamental”, afirma.

“Por isso, aprimoramos o uso do ultrassom que, neste caso, fornece informações importantes e esclarecedoras”, disse.

– Esquecer o medo –

Após várias semanas atendendo pacientes com coronavírus, o medo de se infectar passou, “sinto que o deixei de lado”, reconhece.

Um medo relativo, já que na Itália 150 médicos morreram por coronavírus nos últimos dois meses.

“Tenho dois filhos, uma esposa, tento ter cuidado, por isso durmo em um apartamento perto da minha casa para limitar o contato diário com eles. E quando estou em casa, uso luvas e máscara para protegê-los”, conta.

Diante de uma crise tão excepcional, que Marino De Rosa vive em primeira pessoa, as semanas marcadas pela emergência de saúde lhe deixaram muitos pensamentos e ensinamentos.

“Emociona me sentir realmente útil para os demais”, admite.

O novo vírus representa um desafio para o médico, que apesar de “acostumado” devido à pandemia, também está preocupado por não poder se dedicar a outros pacientes que sofrem de outras doenças.

Marino não se atreve a fazer previsões sobre o futuro, nem sobre o esperado retorno à normalidade. Como muitos de seus colegas, estima que haverá um “novo pico” após o fim do confinamento, que se inicia segunda-feira na Itália.

“Haverá um aumento dos novos casos entre o final de maio e início de junho”, calcula.

“Agora estamos mais preparados, contamos com maior capacidade para atender rapidamente os pacientes”, afirma.