A coisa aconteceu muito rapidamente.

Uns quinze dias depois de iniciada a vacinação da Covid-19, começaram a surgir os primeiros casos de uma reação que não havia sido registrada em nenhum lugar do mundo.

Vacinados de todos os estados passaram a relatar uma coceira forte nos braços que depois se espalhava por todo o corpo.

Com o passar dos dias a pele ficava mais espessa e assumia um tom verde escuro.

Um mês depois os casos da desconhecida reação alérgica já se contavam às centenas, em todas as regiões do país.
Os médicos estavam atônitos.

A reação não tinha paralelo nos compêndios médicos.

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No início de fevereiro, em Aquidauana, o primeiro caso de Jacareplasia da história foi oficialmente registrado.
Ironicamente, o indivíduo se chamava Jair.

No seu caso a reação foi tão forte que apenas cinco dias depois de vacinado, além da coceira insuportável e do enrijecimento dos tecidos, Jair desenvolveu uma pequena cauda e dentes alongados.

Com o tempo, piorou.

Não conseguia mais ficar em pé sobre duas patas, digo, pernas.

Não havia dúvidas.

Jair estava virando um jacaré.

Dada a proximidade com o pantanal, muita gente achou que a história que corria o país por WhatsApp era lenda.
Imagine, um sujeito virar jacaré justo no pantanal?

Fake news. Certeza.

Nenhum animal se transforma em outro, não precisa ser cientista para saber disso.

Só mesmo depois que o Fantástico fez uma longa reportagem sobre a bizarra transformação é que a história ganhou credibilidade.

Disseram que Jair havia sido um dos primeiros vacinados, pois era grupo de risco, obeso e com diabetes.


Segundo o programa, Jair se recusava a dar entrevistas, mas a reportagem divulgou um vídeo onde se via claramente um jacaré saindo de dentro do rio, para atacar uma onça que bebia água.

O autor do vídeo jurava que era amigo do Jair e que aquele jacaré era o dito cujo.

A comunidade cientifica demorou a aceitar.

Vieram cientistas de todas as partes do mundo para estudar o caso. Um biólogo americano afirmou a CNN, depois de realizar testes em um paciente de Catanduva:

– It’s an alligator. I’m positive. — foi taxativo.

Uma semana depois, o Brasil computava milhares de casos.

Em São Paulo, por exemplo, era jacaré por todo canto, nos shoppings, nas avenidas, nos restaurantes.

O lago do Ibirapuera não dava mais conta de tanto bicho.

No Tietê um jacaré foi fotografado comendo pneus.

“Gente, todo poder emana do povo e não do polvo! kkk” — o zero um fez piada no Twitter e foi muito criticado, primeiro porque o assunto era sério e depois porque polvo não tem nada a ver com jacaré.

O presidente decidiu fazer um pronunciamento, mas ao invés de um longo discurso para acalmar a Nação, chamou uma rede de TV e rádio e surpreendeu a todos dizendo apenas:

– Eu avisei, tá ok? Levantou e foi embora.


A verdade é que ele tinha avisado mesmo, mas ninguém deu bola. Doria preferiu não se manifestar.

Sua assessoria de imprensa informou que estava em Miami.

Na cidade mato-grossense de Aquidauana apareceu o primeiro caso de mutação. Ironicamente, o indivíduo que se transformou em réptil se chamava Jair

O Instituto Butantan também ficou em silêncio.

Tudo indicava que o país caminhava para o caos.

Pudera. Escapamos da Covid-19 para virar jacaré?

Depois de muita polêmica, o presidente autorizou o exército a capturar e matar todos os jacarés que encontrasse pela frente.

Era uma questão de segurança nacional, afinal.

Quando foi chegando à eleição de 2022, todo mundo já sabia que o presidente seria reeleito. Estava com mais de 80% de aprovação, dizimando jacarés a torto e a direita. Digo, esquerda.

Nenhum esforço da oposição foi capaz de dificultar sua reeleição. Nem mesmo uma gravação vazada onde alguém claramente dizia:

– Mas presidente… não tem mais de onde tirar jacaré. Já compramos até os que estavam no tanque do Instituto Butantan… o senhor precisa entender que…


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