Foi flor, é pedra. Foi flor, é pedra. Foi cartão postal, é anúncio fúnebre. Foi delicada, é estúpida.

Aqui ninguém mais duvida que calçam feito luvas essas imagens na cidade do Rio de Janeiro. Nelas não acreditava, no entanto, a turista espanhola María Esperanza Ruiz. Aos 67 anos, ela estava na semana passada realizando o sonho de conhecer a cidade que ainda imaginava ser a maravilhosa, a cidade do bondinho, a cidade do Cristo Redentor.

Num passeio pela conflagrada favela da Rocinha, ao passar por uma barreira da PM o carro da agência de turismo em que estava Esperanza foi alvejado por tiros disparados pelos policais. Uma bala  estourou-lhe a jugular, jorrou notícia de indignação em toda a mídia internacional – a daqui falou menos, porque é tiro todo santo dia, é tiro toda santa noite, a gente já pega no sono ao som de tiroteio. O jornal britânico The Guardian foi um dos que bateram duro: “turistas passeiam entre fogo cruzado no Rio de Janeiro”.

Algumas perguntas, no Brasil e no exterior, nasceram e cresceram com a morte de Esperanza. Por que as agências de turismo nacionais e internacionais insistem em incluir a Rocinha e outros morros fatais em seu pacotes de viagem? Por que o ministro da Defesa, Raul Jugmann, que até ontem defendia a presença das Forças Armadas na Rocinha, agora diz que tal intervenção estressa os policiais? O tenente David dos Santos Ribeiro foi quem atirou, e está em liberdade. Os turistas que estavam no carro asseguram que a blitz não sinalizou para o veículo parar. Também na semana passada, a estrela Madonna esteve no Brasil para o casamento da modelo Michelle Alves com o empresário Guy Oseary.

Num ato que faz bem para o seu marketing artístico e pessoal mas é péssimo para o Brasil, Madonna esteve no Morro da Providênca, escoltada por PMs. Isso empresta glamour a traficantes e criminosos, isso leva tantos turistas, que não possuem fama para receber proteção, a passear e se expor a tiros nas comunidades chapa quente (Michelle também subiu morro).

O que Madonna fez chama-se oportunismo, o que os PMs fizeram chama-se jogar no lixo dinheiro público. A morte de Esperanza não vai modificar em nada o Rio de Janeiro, traficantes e policiais continuarão atirando em quem é inocente. Só não se pode afirmar que tudo será como antes porque o anúncio fúnebre tende a crescer em nomes em sua parte branca, emoldurada por margens que se tornam mais pretas e enlutadas a cada tiro.

Mais Rio de Janeiro: saiu do campo da bandidagem, entrou no terreno de atentado à democracia. O comandante do 3º BPM, tenete coronel Luiz Teixeria, foi executado com quatro tiros.