Meninos, eu vi. Tenho idade suficiente para ser um dinossauro das redes sociais.

Ou melhor, sou um pterodáctilo do pré-cambriano da Internet, quando a internet era só e-Mail e um punhado de sites.

Quando não existia Google, só Netscape.

Quando a gente se conectava a um site, depois do ruído áspero do modem, e vibrava de alegria.

Sou da época que a Internet necessitava do aposto “a rede mundial de computadores”.

Dá época que éramos chamados de “internautas” e as redes sociais eram “microblogs”.

Desbravei esses mares.

Vi o Orkut nascer, ser invadido por brasileiros, destruído por comunidades aleatórias, até perecer abandonado. Tive conta no MySpace. Baixei músicas no Napster.

Blog? Tive também. Muito antes de blogs virarem moda de novo.

Podcast a mesma coisa. No início do século gravei mais de 150 episódios, quando conteúdo não chamava “conteúdo”, nem dava dinheiro.

Produzíamos por farra. Pela bagunça. Só por isso.

Então nasceu o Facebook, mas não dei bola. Preferi o Twitter.

E como criei minha conta no primeiro ou segundo dia de existência dessa rede, consegui o arroba Neto. Isso mesmo. Sou o @neto no Twitter até hoje, o que transforma meus domingos num mar de ofensas de torcedores que acreditam que sou comentarista de futebol.

Um dia cansei de apenas textos curtos e comecei a escrever no jovem Facebook.

Por anos escrevi aqui e ali, sobre tudo e porque era divertido.

Acumulei uns 300 mil seguidores somando as duas redes.

Aí apareceu o Instagram e eu, já veterano, disse:

– Que bobagem. Isso não vai pegar. Quem é que tem tanta foto para postar? Isso é só um novo Fickr. – o que prova que não faço ideia do que vai ou não ser sucesso.

Foi assim que chegamos onde estamos hoje.

E hoje, cada vez mais, está perdendo a graça.

Eu sei que pode soar papo de dinossauro e provavelmente você, que é jovem, que é nativo das redes, vai dizer que a Internet não é para ter ou não graça. Internet, para você, está e sempre esteve por aí.

Minha decepção com a rede deve soar para você como se alguém dissesse “o ar que a gente respira anda muito sem graça”, eu entendo.

Entendo como, para você, é impossível reconhecer que a Internet foi uma conquista incomparável da liberdade de expressão.

Hoje mudou. Mudou para um lugar perigoso, cheio de riscos ocultos.

Na Internet de hoje, estamos sempre à beira de um conflito com quem não conhecemos. Passamos boa parte do tempo bombardeados com informações equivocadas ou descaradamente falsas. Comunidades baseadas em fake news. Gente de mentira divulgando notícias idem.

A Internet de hoje não é mais uma aventura para se entrar. O desafio agora é conseguir sair.

Ou você nunca ouviu falar daquele sujeito que não pode sair de um grupo de WhatsApp porque vai “pegar mal”.

Ou de uma amiga que não pode deixar de seguir fulano no Instagram porque ele ficará ofendido?

Elon Musk pode salvar a rede mundial de computadores, se não matar o Twitter

Que ironia. Fomos escravizados pela mesma ferramenta que nos proveu liberdade.

Mas isso é só a ponta do iceberg. E não sou eu quem está dizendo.

Essa semana, em dois artigos diferentes, jornalistas norte-americanos endereçaram exatamente essa mudança que a Internet está atravessando.

Isabel Fattal e Charlie Warzel, ela do The Atlantic, ele, ex-Buzfeed, tratam de uma mudança muito sutil pela qual vem passando a rede mundial de computadores: a desumanização.

Não me refiro à Inteligência Artificial. Falo dos algoritmos, da organização e controle que impedem o caos e dá cores pálidas às redes sociais, cada vez mais engajadas em compliances, conquista de audiência, controle de riscos e desumanidades.

Inteligência Artificial vai piorar tudo, isso vai.

Por isso, talvez, um maluco como Elon Musk, com seu Twitter sem tickezinho azul e sem censura consiga trazer de volta um pouco do caos que seduziu a todos nós, os internautas.