O Haiti, onde o primeiro-ministro Ariel Henry renunciou na segunda-feira (11), enfrenta uma instabilidade política crônica desde o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, em 1986.

A seguir, os principais eventos que marcaram as últimas décadas no país.

– A queda de Duvalier –

Em 1986, o ditador Jean-Claude Duvalier, presidente desde 1971, é expulso por uma revolta popular e o Exército toma o poder. Duvalier seguiu para a França e só retornou ao Haiti 25 anos depois.

“Baby Doc” tornou-se presidente vitalício aos 19 anos, em abril de 1971, depois da morte de seu pai, François Duvalier, conhecido como “Papa Doc”, que chegou ao poder em 1957 durante eleições fraudulentas.

– Os mandatos não concluídos de Aristide –

Em 30 de setembro de 1991, o padre salesiano Jean-Bertrand Aristide, eleito presidente em 1990, é derrubado por um golpe militar e parte para o exílio.

Quatro anos depois, ele foi restituído ao poder por uma intervenção militar dos Estados Unidos e concluiu o seu mandato em 1996, quando foi sucedido por René Préval.

Reeleito em 2000, Aristide deixa novamente o poder e parte para o exílio em 2004, desta vez sob pressão dos Estados Unidos, França e Canadá, após uma insurreição armada e uma revolta popular.

Durante dois anos, o país fica sob controle da ONU, que mobiliza uma força internacional.

Em 2006, Préval foi eleito presidente novamente. Até hoje, ele foi o único líder haitiano que concluiu os dois mandatos autorizados pela Constituição.

– Um ano e meio de crise eleitoral –

Michel Martelly, eleito em 2011, conclui seu mandato em 2016 sem um sucessor, após o cancelamento das eleições presidenciais do ano anterior. O Parlamento designa um presidente provisório.

Após uma longa crise eleitoral, o empresário Jovenel Moise é eleito em uma votação em novembro de 2016.

– Moise assassinado –

Moise enfrenta rapidamente o aumento das ações de grupos armados.

Após o fim, em janeiro de 2020, do mandato dos deputados sem a convocação de novas eleições, o presidente continua governando por decreto.

Em 7 de fevereiro de 2021, o Poder Judiciário decreta o fim de seu mandato, mas Moise alega que ainda tem mais um ano para permanecer no poder. No mesmo dia, ele afirma que escapou de uma tentativa de assassinato.

Cinco meses depois, em 7 de julho, Moise é assassinado em sua casa por um grupo armado. O primeiro-ministro Ariel Henry, nomeado um pouco antes, assume o governo de forma interina.

– Paralisação política –

Em 27 de setembro, as eleições previstas para acontecer entre novembro e janeiro são adiadas de maneira indefinida.

Em um vazio jurídico, Henry permanece no poder após 7 de fevereiro de 2022, data do fim de mandato de Moise.

A situação foi repetida em 7 de fevereiro de 2024, quando o primeiro-ministro deveria deixar o poder com base em um acordo político.

– Ameaça de “guerra civil” –

Em 28 de fevereiro, Henry aceita “compartilhar o poder” com a oposição no âmbito de um acordo que prevê eleições após um ano, que seriam as primeiras desde 2016.

Na terça-feira, 5 de março, o líder de uma gangue influente, Jimmy “Barbecue” Chérizier, ameaça iniciar uma “guerra civil que conduzirá a um genocídio” se Henry não renunciar.

A declaração aconteceu pouco depois da assinatura de um acordo entre Quênia e Haiti que prevê o envio de polícias do país africano em uma missão apoiada pela ONU para lutar contra as gangues que controlam grande parte de Porto Príncipe e as rodovias que levam ao restante do território.

– Renúncia de Henry –

Em 11 de março, o primeiro-ministro, questionado e sem apoio popular, aceita renunciar e ceder o poder a um governo de transição, após a celebração de uma reunião da Comunidade do Caribe (Caricom) em caráter de urgência na Jamaica para examinar a situação do Haiti.

Uma fonte do governo americano afirmou que Henry, bloqueado em Porto Rico sem conseguir retornar à capital haitiana, será bem-vindo nos Estados Unidos caso tema por sua segurança.

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