Nesta quarta-feira, 3, o governo de Taiwan afirmou que os exercícios militares que a China faz ao redor da ilha neste próximos dias como retaliação à visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, correspondem a um bloqueio aeronaval de seu território. Pelosi, que é crítica à política de Pequim por longa data, se encontrou esta manhã (noite de terça, pelo horário de Taipé) com a presidente de Taiwan, Tsai Ingwen. Esta é a primeira visita de um representante do alto escalão do governo norte-americano a Taipé em 25 anos. Em 1997, o presidente da Câmara dos EUA, à época, era o republicano Newt Gingrich, visitou a ilha, mas o quadro da geopolítica mundial era bem diferente. A presidente da Câmara deixou Taiwan pó volta das 7h de hoje, pelo horário de Brasília, com destino à Coreia do Sul.

O governo chinês classificou a viagem como uma uma séria provocação e desde o início advertiu os EUA e Taiwan sobre o momento inoportuno para a realização do evento. O líder chinês Xi Jinping chegou a realizar um telefonema para o presidente americano Joe Biden, dizendo que os americanos estavam brincando com fogo caso mantivessem a viagem. Contudo, Pelosi relatou à Casa Branca que viajou por vontade própria. Ela esclareceu que não poderia ser impedida devido ao princípio de separação de Poderes existentes em Washington. De qualquer forma, foi advertida de que este não seria o momento ideal para tal visita.

Em represália, o Comando Militar do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular da China informou que fará exercícios militares em seis locais em torno da ilha, considerada uma província rebelde e pertencente ao território chinês. Ocorrerão simulações aeronavais com utilização de tiro com munição real, entre esta quinta-feira, 4, e sábado, 6. Os chineses comunicaram que suas operações atingirão grandes áreas e obrigarão Taipe a fechar seu espaço aéreo para se evitar acidentes.

Na prática, estes atos correspondem a um bloqueio aeronaval e esta é a mensagem de Pequim em relação à capacidade da ditadura comunista de isolar a ilha se assim desejar. Além deste bloqueio, nesta quarta-feira, 3, Pequim anunciou sanções à ilha, como a suspensão de importações de itens básicos, como frutas e produtos de pesca. Os chineses prometem também paralisar a importação de areia natural de Taiwan. Estas retaliações já eram esperadas pela Defesa de Taiwan desde o final do ano passado, ao avaliar como a China poderia tentar submeter Taípe à sua vontade de integração territorial.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying afirmou que a realização dos exercícios militares simbolizam “uma medida necessária e legítima para responder às graves provocações de alguns políticos americanos e dos independentistas taiwaneses”. De acordo com os chineses, a “visita de Pelosi a Taiwan significa que os EUA são o provocador e a China é a vítima. A provocação conjunta de EUA e Taiwan aconteceu primeiro, a defesa justa da China veio depois”, diz Chunying.

O governo taiwanês afirma que pelo menos 18 rotas aéreas internacionais serão afetadas pelos exercícios militares. No entanto, Taipé diz trabalhar para evitar atrasos de voos regulares ao seu país. As Forças Armadas de Taipé disseram que “a soberania de Taiwan foi violada” e que “se manterá em alerta”. O Ministério da Defesa de Taiwan informou ainda que cerca de 27 aeronaves da Força Aérea chinesa sobrevoaram o espaço aéreo de Taiwan na manhã desta quarta-feira e 22 destas aeronaves atravessaram o limite da fronteira com o espaço aéreo deTaiwan.
O embate entre os EUA e a China teve repercussão mundial. A Austrália e o Japão pediram para que dois lados moderassem o tom do confronto. O jornal Strait Times, o qual reflete a opinião do governo de Singapura, acusou Pelosi de exibicionismo. Como também o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o aumento das tensões, ocasionadas pela visita de Pelosi, “não deveria ser subestimado”.

Nos Estados Unidos, Pelosi recebeu fortes críticas de membros de seu próprio partido, o democratas, pois ela expôs os esforços do presidente Joe Biden de construir uma aliança na região contra a China. Em contrapartida, seus rivais republicanos apoiaram sua atitude. Durante o encontro com Tsai, Pelosi reforçou o apoio dos Estados Unidos à ilha. “Nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocadamente claro que nós não iremos abandonar Taiwan”, afirmou ela. Como também que “a determinação dos EUA em preservar a democracia em Taiwan e no resto do mundo permanece férrea”.