A proximidade do segundo turno das eleições municipais de 2024 — marcado para o dia 27 de outubro — coincidiu o retorno do X no Brasil em 8 de outubro, quando o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes liberou o acesso após a plataforma cumprir uma série de medidas imposta pela Corte.

Na decisão, o magistrado citou as eleições municipais deste ano como um dos argumentos para a suspensão das redes sociais em 30 de agosto desse ano, após determinações não seguidas por Elon Musk, proprietário da plataforma.

Com o X de volta à ativa, retorna também a influência que a plataforma pode ter no segundo turno do pleito. O impacto, porém, na visão de especialistas consultados pelo site IstoÉ, tende a ser limitado em meio à concorrência com outras redes sociais emergentes.

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“É um ótimo momento para monitorarmos se haverá uma mudança no X em relação ao cumprimento de decisões judiciais de remoção de conteúdo e do estado de violência contra os candidatos, e sobretudo as candidatas, os eleitores e o processo eleitoral em si”, explicou Iná Jost, coordenadora de pesquisa do InternetLab.

A coordenadora de pesquisa do Internet Lab, Iná Jost, explicou que um ponto importante é que o X não permite anúncios políticos, porém é preciso observar como as campanhas pretendem se movimentar dentro da plataforma. “Também é um ótimo momento para monitorarmos se haverá uma mudança no X em relação ao cumprimento de decisões judiciais de remoção de conteúdo e do estado de violência contra os candidatos, e sobretudo as candidatas, os eleitores e o processo eleitoral em si”, completou.

Diferentemente de outras redes sociais, o X não permite anúncios políticos – embora não impossibilite a discussão do tema. Para Leandro Consentino, cientista político e professor de Relações Internacionais do Insper, o impacto da plataforma não deve ser superdimensionado. Na visão do professor, além do alcance limitado, os debates na rede tendem a ser polarizados, especialmente pelo fato do algoritmo mostrar ao internauta somente o conteúdo que ele está habituado a consumir.

“Porém, é importante conter as ondas de desinformação, que sem dúvidas podem ser propagadas e acabar determinando certo comportamento que não são adequados dentro de uma eleição, como a tentativa de prejudicar certo candidato, ou favorecer algumas narrativas”, acrescentou.

Pablo Almada, sociólogo e pesquisador do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), contraria o argumento.

“Os conteúdos postados e compartilhados no X são em maioria textos, emojis, memes, fotos, links e com amplo uso de hashtags. Isso faz com que dentro do X a comunidade de seguidores de assuntos políticos se mobilize de outro modo, muitas vezes polemizando e com maiores discussões, mas com base em conteúdo mais escrito e menos visual”, explicou.

O pesquisador endossa o argumento com base no Monitoramento das Eleições de 2024, organizado pelo NEV, que mostrou que o pleito sofreu intensa influência de conteúdos presentes no Instagram e, em menor escala, no TikTok.

Migração de internautas

Com a suspensão do X no Brasil por determinação do STF, muitos internautas se viram obrigados a usarem com mais frequência as demais plataformas e até migrarem para outras, como o Bluesky – que recebeu 2,6 milhões de novos usuários.

Agora, com o retorno da rede social de Elon Musk, é preciso observar se houve retorno da maioria dos usuários. Na visão de Pablo, o eleitorado parece estar mais disposto a continuar com o movimento de migração do X, algo que o marketing político vem notando desde 2022 e passou a direcionar os conteúdos para redes mais “‘nichadas” como o Instagram e o TikTok.

Entretanto, os usuários ainda têm a percepção de que possuem mais liberdade de expressão no X do que nas demais plataformas, e ele estaria sendo ameaçado por “forças” como o STF e o ministro Alexandre de Moraes, nutrindo assim um certo conspiracionismo.