O IBGE anunciou hoje que a prévia da inflação de agosto, o IPCA-15, subiu 0,89% em relação a julho, o que foi o maior resultado do indicador para um mês de agosto desde 2002. Não é um dado isolado, porém: no acumulado dos últimos 12 meses, os preços subiram 9%. Só em 2021, o mercado já espera por uma taxa que supere a barreira dos 7%, o que seria a maior inflação brasileira desde a crise que levou Dilma ao impeachment. O ponto mais crucial é que esse contexto de preços inflacionados é um dos piores em que o País poderia estar, pois ele não diz respeito à alta de demanda.

A inflação atual é resultado de dois elementos: um externo, que foge ao manejo econômico do governo, e outro no qual ele é o principal responsável. No primeiro caso, os preços estão subindo no Brasil como consequência das políticas dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, que estão desvalorizando moedas periféricas à medida que realizam ajustes nas suas economias “pós-Covid”. Com o câmbio valorizado, a economia brasileira se voltou ainda mais para fora, abastecendo os seus clientes externos com mais força do que o próprio consumidor interno.

Assim, se a soja está ficando mais cara em dólar, é óbvio que ela ficará mais custosa para quem compra derivados do grão nos supermercados brasileiros. De acordo com o Dieese, a cesta básica acabou de ficar mais cara em 15 cidades importantes do País, como Fortaleza (CE), onde subiu quase 4%, e Campo Grande (MS), em que a alta foi de 3,89%. Por lá, o preço desses alimentos é de R$ 588.

Mas a inflação também aponta para os erros da equipe econômica. O governo parece só estar preocupado em gerar atritos institucionais. O primeiro deles diz respeito ao negacionismo com a crise hídrica. Não à toa, o maior impacto na taxa de julho, publicada pelo IBGE, veio do grupo de habitação (3,10%), onde é calculada a variação do preço da energia elétrica (saltou 7,88%). Enquanto o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) espera que as reservas acabem em novembro, muita gente do setor já está dizendo aos quatro ventos que teremos “cortes programados” a partir de outubro.

Outro papel preponderante do governo federal é no chamado risco fiscal. Os programas eleitoreiros e as promessas de aumento dos salários dos servidores devem estourar o teto de gastos aprovado pelo governo Temer e colocar em risco o controle inflacionário. É uma postura apenas despreocupada do governo com a economia. Para os analistas, o governo está mais preocupado com arruaças institucionais e discussões infundadas. É como diz um economista às ISTOÉ: “Eles são liberais por conveniência, não por convicção”.

Em 2018, Bolsonaro dizia que não entendia nada de economia e que se precisasse recorreria ao ministro Paulo Guedes, seu “Posto Ipiranga”. Mas, agora, em que o posto começa a dar sinais de ter quebrado, também começamos a ver que o Brasil vai atingindo recordes de desemprego, de famílias endividadas e, o que é pior, com índices de inflação preocupantes e uma crise econômica que começa a ficar incontrolável.