Esta é a história de vida e resiliência de um cidadão nordestino que poderia ter emergido das páginas de um livro. O protagonista é Eduardo Lima da Cruz, um homem preto, sertanejo e ex-frentista de posto de gasolina que se demitiu do trabalho e com o dinheiro do acerto comprou um carro velho e se jogou na vida, ao lado da esposa, para vender suas pinturas.

Vendia quadros de porta em porta para tentar entrar em alguma exposição no Brasil. Não conseguiu chamar a atenção por aqui, mas o esforço o levou a ser exibido no museu mais famoso do mundo, o Louvre, em Paris.

Duas obras suas – Ouvindo ao coração e Falando ao coração – encontram- se em exposição em sala do nobre espaço francês. Eduardo ganhou visibilidade e notoriedade gigantesca justamente quando seu filho publicou vídeo dele chorando em frente ao museu. “Quando vi já tinham mais de cinco milhões de visualizações”, relembra. A cena rendeu-lhe a carinhosa alcunha de “Chorão do Louvre”.

Natural do sertão de Capim Grosso, centro-norte da Bahia, a 800 km da capital Salvador, Eduardo é filho de uma cozinheira e de um oleiro. Ainda menino despertou para a arte depois de ver seu pai manuseando o barro e fazendo uma escultura simples. “A peça era um rosto, muito linda, que ele fez brincando comigo na hora do descanso que tinha.”

A incrível saga do pintor frentista
Para se ver livre de preconceitos e humilhações no posto de gasolina, Eduardo se reinventa como artista (Crédito:Divulgação)

Na escola, Eduardo trocava os horários do recreio para ficar desenhando. Anos depois, ele foi atropelado dentro do posto onde trabalhava e quebrou as pernas. Imobilizado, retomou os desenhos como passatempo. “Aí, tomei gosto pela arte. Pintei meu primeiro quadro com uma madeira do fundo de um guarda-roupa. Era a fachada da igreja da nossa cidade.”

Com o dinheiro do quadro, ele comprou um material melhor e telas de verdade. “Numa madrugada tive um estalo, acordei e comecei a pintar. De manhã, acordei minha esposa e choramos muito ao ver o resultado. Estava criado o estilo, com uma estética nordestina, que me acompanha até hoje”, conta.

Com cores vibrantes e temas que o circundam, ele pinta o que lhe emociona, “o que estou vendo, que sinto desejo de figurar”, detalha. “Tudo que eu quero é que minha história sirva de exemplo de que é possível viver de arte.”