Em sua edição de julho deste ano,a revista Foreign Affairs lembrou um importante pronunciamento feito em 2022 pelo senador norte-americano Elihu Root, que antes fora ministro da Guerra e do Exterior. O tema do referido pronunciamento foi a preocupante ignorância dos cidadãos a respeito de questões internacionais. Referindo-se ao impacto da Primeira Guerra Mundial em seu país, o Root afirmou: “em nossa democracia, a crescente atenção dos eleitores ao que acontece no mundo exterior criou uma forte necessidade de educação em política internacional. Melhorar a compreensão dos eleitores a respeito dessa área é de fato essencial para que o governo possa agir com base em conhecimento e entendimento, e não em preconceitos e erros”.

Tal avaliação pode e deve ser estendida a todas as questões políticas, internacionais e domésticas, e a todas as demais democracias existentes no mundo. O desconhecimento dos cidadãos a respeito de questões básicas é muito maior do que normalmente se supõe. Tome-se como exemplo a distinção entre esquerda e direita, conceito sempre presente no debate público. Podemos afirmar com segurança que no máximo vinte por cento dos eleitores são capazes de interpretá-la de uma forma adequada.

Referindo-se ao impacto da Primeira Guerra Mundial, o senador norte-americano Elihu Root afirmou que os eleitores desenvolveram grande atenção pelas relações internacionais

Permitam-me sublinhar que me refiro a qualquer país, não apenas, como se poderia supor, ao Brasil, dados os nossos baixos índices de escolaridade. Mesmo entre as camadas sociais mais altas, e mesmo entre os integrantes do que se sói designar como “elite”, a capacidade de apreender e contextualizar noções políticas é bastante baixa. Em nosso caso, é sabidamente improvável que o Legislativo e os partidos políticos, atuando de dentro para fora, sejam capazes de melhorar de forma expressiva seu desempenho. A pressão de fora para dentro é, pois, fundamental, mas de nada adiantará se sua base de conhecimentos se mantiver rala como é hoje. Na área internacional, nosso envolvimento não pode ser comparado ao dos Estados Unidos, mas tende a aumentar rapidamente, fato evidenciado pela importância de nossas exportações de commodities (soja, alimentos, minérios etc) e pela ardida questão do desmatamento da Amazônia. Criticar governos é fácil, mas criticar sem base e seriedade não leva a lugar algum. Não imagino que toda a sociedade, ou mesmo a elite, vá se debruçar sobre complexas obras de filosofia ou de ciência política, mas a atual oferta de conhecimentos é ampla e diversificada. Saber como diferentes países são governados torna-se a cada dia mais fácil e útil.