Associados ao governo Bolsonaro, os militares brasileiros estão adquirindo novos atributos: mexeriqueiros; interesseiros; incompetentes; servis. Será que as Forças Armadas vão sair dessa com a imagem intacta? 

A pecha de mexeriqueiro vai sendo aplicada ao ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, o general da reserva Luis Eduardo Ramos, pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e pelos políticos do centrão. 

Salles endereçou um tuíte a Ramos na manhã desta sexta-feira, com a hashtag #mariafofoca. Essa teria sido a atitude do general na crise que quase fez os brigadistas do Ibama deixarem o combate a incêndios no Pantanal, por falta de recursos.  

Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, aplaudiu Salles. Políticos do centrão deram risada com o episódio, pois acham que Ramos é mesmo uma candinha e conduz mal articulações no Congresso. Eles gostariam que ele fosse substituído por um “profissional”, ou seja, por alguém das suas fileiras. 

A confusão no Ibama nos leva ao tema da incompetência. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, é presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), entidade que concentra as verbas destinadas à preservação da Amazônia e do Pantanal. Ele estaria tropeçando na gestão burocrática desse dinheiro – cometendo erros de quem não sabe como funciona a máquina pública – e com isso atrasaria repasses aos órgãos que ficam sob a alçada de Salles.

É a segunda vez em poucas semanas que o Ministério do Meio Ambiente ameaça interromper o trabalho na linha de frente das queimadas por ter os cofres vazios. 

O servilismo, nesta semana, foi a contribuição de Eduardo Pazuello, ministro da Saúde e general da ativa. 

Ele foi espinafrado em público pelo presidente Jair Bolsonaro, depois de  anunciar um acordo para comprar doses da vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantã, ligado ao governo de São Paulo. Numa entrevista, com semblante fechado e voz trêmula de ódio, Bolsonaro avisou que o acordo não valia nada. Ele não pretente autorizar a compra da “vacina chinesa do João Doria”, seu inimigo figadal. 

Pazuello apanhou e ficou quieto. Depois, apareceu ao lado de Bolsonaro em uma live, dizendo saber muito bem quem manda e quem obedece. Quem manda é o capitão; o general e o interesse público se curvam. Surgiu a dúvida se o ministério da Saúde vai agir de alguma forma para atrasar ou embargar a importação dos componentes da Coronavac para o Butantã. O comportamento de Pazuello já não permite descartar completamente essa hipótese escabrosa. 

Em todos esses episódios, o desempenho de representantes do Exército no primeiro escalão do governo Bolsonaro desmente a imagem dos militares como sendo eficientes, seguros, comprometidos com as soluções técnicas. Eles surgem como gente tíbia e desastrada, que nada acrescenta a um governo muito ruim – ao passo que o governo muito ruim só subtrai da imagem das Forças Armadas. 

Tudo isso poderia ser posto na conta individual dos generais palacianos, não fosse o fato de mais de seis mil militares estarem hoje incrustados na máquina federal. Eram três mil em 2019. O número dobrou em 2020, ano daquela enorme nuvem de gafanhotos que rondou o Sul do Brasil. (Não sei por que me lembrei disso…)

E não é que os militares cheguem aos cargos da burocracia desinteressados dos ganhos que podem ter. Eles foram brigar para que os vencimentos do governo e das Forças Armadas, somados,  possam furar o teto salarial do funcionalismo público.

Na era petista criticava-se muito o aparelhamento do serviço público por sindicalistas. Será assim tão diferente o que acontece agora?