HERANÇA Universidade Hebraica: exerce controle sobre quem pode usar o nome e a imagem de Einstein desde a década de 1980 (Crédito:Sebastian Scheiner)

Em julho de 2003, o físico e autor indicado ao prêmio Pulitzer, Tony Rothman estava há semanas de divulgar seu novo livro: “Tudo é relativo”, fazendo menção a teoria da relatividade de Albert Einstein. Ele queria que a imagem do cientista mais famoso do mundo estampasse a capa de seu manuscrito. As terríveis notícias chegaram por meio de um e-mail de seu editor: se eles quisessem ter a figura de Einstein na capa, precisariam desembolsar uns bons milhões de dólares por direitos autorais ou enfrentariam um processo na justiça tão caro e demorado quanto. Morto em 1955, Albert Einstein deixou no artigo 13 de seu testamento que todos os seus “manuscritos, direitos autorais, direitos de publicação, royalties e todas as outras propriedades literárias” seriam, após a morte de sua secretária, Helen Dukas, e enteada, Margot Einstein, passadas para a Universidade Hebraica de Jerusalém, instituição que Einstein co-fundou em 1918.

A instituição começou a exercer controle sobre quem poderia usar o nome e a imagem de Einstein na década de 1980. Uma equipe foi designada para avaliar as possíveis propostas de licenciadores em potencial. Só havia a preocupação de não manchar o legado do cientista. Uma fralda da marca Einstein, por exemplo, foi recusada, já uma calculadora com o mesmo nome foi aprovada. A Universidade colocava todos que não seguissem suas regras na justiça: de vendedores ambulantes de camisetas e fantasias de halloween a multinacionais como Coca-Cola, Apple e Walt Disney Company, que precisou pagar US$ 2,6 milhões em 2006 por uma licenca de 50 anos para usar o nome “Baby Einstein” em sua linha de brinquedos infantis. Logo o cientista que resistiu em vida às tentativas de comercializar sua identidade e até fez planos para evitar a idolatria póstuma, não teve seu pedido atendido depois de morto. A imagem dele estava ligada a todos os tipos de bens e serviços, de frisbees a globos de neve, camisetas e bonecos. Einstein é uma das figuras mais lucrativas da história gerando em média US$ 12,5 milhões por ano em taxas de licenciamento para a Universidade Hebraica.

A figura de Einstein não pode ser associada ao tabaco, álcool ou a qualquer tipo de jogo de azar

Um dos principais nomes por trás desse ganho milionário post mortem é o do advogado e agente Roger Richman que se especializou em defender viúvas e herdeiros de grandes celebridades no intuito de, como ele mesmo dizia, “prevenir esse tipo de abuso” que a indústria fazia. Entre seus clientes estavam familiares de Marilyn Monroe e Sigmund Freud. Ele inclusive ajudou, com o apoio de poderosos, a aprovar a lei na Califórnia “Celebrity Rights Act”, onde os herdeiros podiam herdar legalmente os direitos de publicidade de seus ancestrais famosos que morreram no estado. Ao ser empossado como “agente mundial exclusivo” de Einstein, Richman elaborou um conjunto de diretrizes com as quais a Universidade Hebraica, detentora dos direitos do cientista, concordou: a imagem dele não seria associada ao tabaco, ao álcool, ou jogos de azar. Não deveria haver fabricação de fórmulas. Nenhum anunciante poderia desenhar um balão de pensamento em uma imagem de Einstein e tentar encher sua mente com suas palavras ou ideias. “Esses eram o básico”, escreveu Richman.

EXPLORAÇÃO Roger Richman: o advogado foi o responsável por fazer Einstein ganhar muito mais postumamente do que em vida (Crédito:Divulgação)

O problema é que as ações de Richman passaram de uma simples curadoria para uma forma de exploração. A própria neta adotiva de Einstein, Evelyn, anunciou planos de processar a Universidade Hebraica pelo que ela considerou um “exagero grosseiro de seu papel”. Ela, infelizmente morreu antes de ter seu dia no tribunal. Para a advogada e especialista em direitos autorais, Deborah Sztajnberg, tudo é uma questão de bom senso e um ponto de equilíbrio entre os dois lados. “Ele deixou em testamento sua herança para a universidade, mas por se tratar de uma pessoa publica e mundialmente conhecida pela importância na ciência, a instituição precisaria ser transparente para mostrar onde estaria aplicando este dinheiro”, explica. Teoricamente, a Universidade Hebraica poderá usufruir indefinidamente dos direitos de toda e qualquer imagem publicada de Einstein no mundo.