No futuro, quando olharmos para trás para tentar compreender como o Brasil chegou a esse período de trevas, teremos um excelente material para analisar. O depoimento do empresário Otávio Fakhoury na CPI da Covid entrará para a história como um retrato sintomático de como pensava a fração da elite brasileira que apoiava o presidente Jair Bolsonaro: um bando de gente arrogante, desonesta e ignorante. Uma expressão matemática resume bem o fenômeno: a quantidade de dinheiro em suas contas bancárias é inversamente proporcional ao número de neurônios em seus cérebros.

Essa gente rica e burra adora invocar o conceito de “liberdade de opinião” para justificar as asneiras que passam em suas cabeças. Claro que milionários estúpidos existem em todo lugar – basta lembrar dos raciocínios exóticos de Donald Trump ou dos britânicos que compraram a ideia do Brexit e agora reclamam de que as prateleiras dos supermercados estão vazias. Entre as grandes economias, no entanto, podemos nos gabar: nossa elite é campeã mundial no quesito palermice.

Fakhoury é o símbolo dessa turma. Afirmou que sua família não se vacinou porque não há provas de sua eficácia. Isso não é apenas mentira, mas burrice: se ele soubesse ler, poderia facilmente acessar algum dos milhares de documentos científicos que comprovam a eficácia das vacinas e a incrível tecnologia com que foram concebidas. O mais simbólico, no entanto, é sua declarada falta de ética: mesmo sendo contra a vacina, ele bancou o Instituto Força Brasil, que tentou intermediar a negociação de vacinas que sequer existiam entre a empresa Davati e o Ministério da Saúde. “Não creio em vacinas, mas que elas rendem, elas rendem…”

Nos EUA e Europa, os milionários formados por grandes universidades doam grandes somas de dinheiro para retribuir a educação que tiveram e que os permitiu enriquecer. Aqui, a elite celebra nas redes sociais quando seus filhos entram em alguma faculdade vagabunda, ao mesmo tempo em que tentam sabotar as renomadas universidades públicas alegando que são “antros de comunistas” – sinônimo para quem fala frases difíceis demais para eles entenderem.

É a mesma gentalha que adora elogiar a limpeza de Miami, mas abre a janela da BMW para jogar lixo nas ruas de São Paulo. Uma galera que baixou direitinho o passaporte da vacina para poder entrar humildemente nas peças da Broadway, que finalmente voltaram, mas que reclama quando tem que mostrar o mesmo comprovante para entrar em algum lugar no Brasil.

Enfim, teremos muito a reconstruir no Brasil quando Bolsonaro finalmente voltar ao esgoto de onde nunca deveria ter saído. Seria bom que as ideias dessa banda podre da elite brasileira fossem junto – pelo mesmo cano.