A medicina tem avançado cada vez mais nos últimos tempos e essa é uma excelente notícia. É inegável, por exemplo, o seu aprimoramento na eficácia da prevenção e do tratamento de enfermidades infecciosas causadas por vírus, e a constante descoberta de novas vacinas nos assegura menor risco de exposição a doenças e maior qualidade de vida. Agora, vamos à má e irremediável notícia desoladora: eles, os vírus, também avançam em suas mutações genéticas, o que impede que sejam definitivamente cercados. Assim, desde que o mundo é mundo, a humanidade foi, ainda é e sempre será refém desses insignificantes, mas perigosíssimos inimigos. Na semana passada, a história se repetiu. A ameaça de uma pandemia começou a assombrar o mundo, a ponto de a Organização Mundial da Saúde seguir cogitando, na quinta-feira 23, sobre a decretação de “estado de emergência global”.

MEDO Na China, a população alarmada tenta se proteger do coronavírus: em setenta e duas horas, a doença se alastrou por diversos países (Crédito:ANTHONY WALLACE/NICOLAS ASFOURI)

Trata-se de uma nova cepa do coronavírus, jamais vista pelos cientistas, que em menos de setenta e duas horas “voou” da China para o Japão, Taiwan, Tailândia, EUA, Arábia Saudita, Vietnã, Cingapura e Brasil . Como dito anteriormente, vírus são mutantes, ou seja, o coronavírus, em si, não é novo (já causou a epidemia de SARS que em 2002 matou quase mil pessoas). Nova é a atual cepa. Na China, até a quinta-feira, as autoridades contabilizavam dezessete mortes, quinhentas e quarenta e sete pessoas com a doença confirmada e outras mil e setecentas internadas. No Brasil, uma mulher foi diagnosticada com suspeita em Minas Gerais, após passar uma temporada em Shangai. “Não conhecemos o real potencial dessa variante do coronavírus, não temos vacina contra ela e nem tratamento específico”, disse à ISTOÉ Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia. “O vírus é um parasita intracelular obrigatório. Se agirmos em determinado ponto do vírus, podemos estar agindo em toda a célula”, afirmou à ISTOÉ a também infectologista Nancy Bellei. Ou seja, ele sempre dá um jeito de nos driblar.

Resistência mortal

Os vírus estão cada vez mais resistentes, seja pela ação da natureza ou pela mão do homem. Exemplifica essa situação a morte de um homem na cidade paulista de Sorocaba, na segunda-feira 20. Faleceu de febre hemorrágica brasileira, e vale lembrar que havia vinte anos que tal vírus não era constatado no País. Mesmo “quieto”, silenciosamente, ele foi mudando geneticamente, até que voltou a atacar. Para continuarmos a falar de Brasil, na quinta-feira divulgou-se a morte de quarenta macacos na região sul, e a importância disso é que tal animal funciona como sinalizador de que o vírus da febre amarela está de novo atuando – a mesma febre amarela que é transmitida ao homem pelo mosquito aedes aegypti, também vetor da dengue, entre outras doenças. De volta ao coronavírus, ele é transmitido pelo ar, pelo toque ou por objetos contaminados. Sintomas? Coriza, dor de garganta e febre. Nada diferente, portanto, do mais persistente dos vírus – o da gripe. Enquanto o HIV morre em segundos em contato com o ar, o da gripe sobrevive numa maçaneta de porta por quase um mês. É assustador. E mais assustador, ainda, é lembrar da tragicamente famosa “gripe espanhola”. Mutação do H1N1, ela dizimou entre 1918 e 1920 cerca de 40 milhões de pessoas (trinta e cinco mil no Brasil, entre elas o presidente Rodrigues Alves), cinco vezes mais do que as mortes ocorridas na Primeira Guerra Mundial. O vírus da gripe é, sim, o mais mutante dos sequestradores que nos mantêm como reféns.