Apesar do ambiente circense, a eleição para a presidência do Senado saiu melhor do que a encomenda. A escolha de Davi Alcolumbre fortaleceu o núcleo do Executivo, em particular Onix Lorenzoni, e reforçou o cacife do governo para tocar as reformas. Se esta hipótese estiver correta, fica praticamente afastado o cenário desastroso que desde algum tempo tem assustado o País: o de um fracasso do governo Bolsonaro na efetivação das reformas, a começar pela da Previdência. Continuar empurrando com a barriga a pesada carga que paralisou a economia brasileira equivale a postergar para 2022-2026 um conjunto de ações que se tornarão tanto mais difíceis quanto mais as adiemos.

Sim, a emenda saiu melhor que o soneto. Soneto, no caso, é a resistência irracional contra reformas inadiáveis. É uma opção preferencial pelo atraso, abrindo mão de uma parcela enorme de nosso poder decisório para políticos de quinta categoria, dos quais Renan Calheiros tem sido o representante emblemático.

Mas, atenção: esse lance de habilidade e sorte aconteceu no exato momento em que, traumatizados, todos nós acompanhávamos a situação em Brumadinho. Visto dessa forma, temos de convir que foi uma pequena vitória. Um pequeno passo em relação à montanha de percalços que nos espera no médio prazo. Este — e o digo com a convicção de não estar dramatizando — é um conjunto de horrores que poderá pôr em risco até mesmo a nossa existência como entidade nacional autônoma.

A verdade é que nossos governos têm se mostrado pateticamente incapazes de atacar os problemas estruturais, articulando uma estratégia de crescimento econômico eficiente e equilibrada.

A prioridade que se dá à exportação de commodities, tendo como carro-chefe a exploração predatória de minérios, talvez seja o melhor exemplo. A tragédia de Brumadinho quebrou o biombo que nos separava da realidade, escancarando em toda a sua extensão a criminosa irresponsabilidade de muitos executivos e empresas que tínhamos por sérias. Este fato tem uma implicação política imediata e irrecusável. De uma forma ou de outra, o governo Bolsonaro terá que ampliar sua agenda para nela incluir políticas dignas do nome nas áreas de meio ambiente, de saneamento e de educação.

Há outras, evidentemente, mas estas são inadiáveis. A hora é agora.

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A vitória do governo na escolha do presidente do Senado foi um pequeno passo diante da montanha de percalços que nos espera


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