Os carros elétricos estão cada vez mais presentes nas cidades brasileiras. Com o aumento do número de carregadores espalhados pelo País e a variedade de lançamentos, a compra do modelo passou a ir além da mera opção por uma forma menos poluente de dirigir. Tecnologia e design atraentes, aliados ao aumento na autonomia das baterias, incentivos fiscais e ao crescente preço dos combustíveis, colocaram o carro elétrico na lista de desejos de muitos motoristas no Brasil e no mundo. Mas será que realmente vale a pena comprar um? Quem já fez a troca do veículo a combustão pelo movido a eletricidade garante que é um caminho sem volta. Fora os benefícios para o planeta e para o bolso na hora de abastecer, a aceleração do veículo — que alcança alta velocidade em poucos segundos — é uma das mudanças mais interessantes para quem é apaixonado por direção. “Não voltaria a ter um carro a combustão. É como decidir começar a ouvir música em uma fita K7, não faz sentido”, diz o empresário Rodrigo Almeida, que é vice-presidente da ABRAVEI, Associação de Proprietários de Carros Elétricos Inovadores. Almeida diz que já está no seu terceiro carro elétrico, sendo a sua última aquisição um Chevrolet Bolt, adquirido no começo de 2020. “Escolhi esse carro pela autonomia, já andei mais de 400 quilômetros sem precisar carregar”, explica.

EFICIÊNCIA Almeida faz longas viagens com seu Bolt elétrico e encontra pontos de carga (Crédito: Ruy Baron)

Para viajar pelo País, ele que é morador de Brasília e vem com frequência para São Paulo, é fácil: ele consulta o site “Plug Share” que mostra todos os pontos de carregamento no País e no mundo, vê em que momento precisará fazer uma recarga e então coloca o pé na estrada. “Acho que já economizei uns R$ 20 mil em combustível. Para carregar meu carro em casa, gasto cerca de R$ 12 em energia elétrica, fora não pagar IPVA”, explica. Além de Brasília e Distrito Federal, estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Maranhão e Ceará oferecem isenção total ou parcial no IPVA. Essa medida, segundo Almeida, ajuda a aliviar a conta, já que os preços dos veículos elétricos são bem maiores dos que os carros convencionais.

Um dos lançamentos mais comentados do País é o do Renaul Kwid E-tech, que está em pré-venda pelo valor sugerido de R$ 143 mil. Para se ter uma ideia, o Kwid, com motor flexível, é o modelo popular mais barato do país, partindo do valor de R$ 67 mil. Ou seja, quando passa a rodar com bateria, o preço mais do que dobra. Os dois modelos são quase idênticos na aparência. No elétrico a suspensão é um pouco mais alta para encaixar as baterias, que pesam 200 kg e têm capacidade de 26,8 KW/h. “Já a diferença de valor não é tão alta quando se compara com os modelos premium. Um Porsche elétrico não sofre essa variação tão grande entre as duas versões”, defende Almeida.

“Acho que já economizei uns R$ 20 mil em combustível. Para carregar o carro na tomada de casa gasto R$ 12 com energia elétrica” Rodrigo Almeida, empresário e vice-presidente da Abravei

Fuga do rodízio

Quem quiser colocar as contas na ponta do lápis, para ver se realmente vale a pena fazer a troca, deve levar em conta os valores dos combustíveis, mas também a própria intenção de mudar a maneira como se consome energia limpa. O motorista de aplicativo Thiago Garcia, que também faz sucesso no YouTube com um canal sobre carros elétricos, diz que comprou o modelo — um JAC IEV 40 — para escapar do rodízio de veículos na cidade de São Paulo. “Carros elétricos não participam do rodízio, o que impacta diretamente no meu trabalho. Fora que para rodar 300 quilômetros, eu gasto R$ 27 para carregar”, explica. Quem possui um veículo elétrico também gasta menos na manutenção, já que não há troca de óleo constante, por exemplo.

Para Clemente Gauer, que trabalha como consultor em uma startup, outra questão que deve ser considerada é a desvalorização do veículo, que não é a mesma dos carros convencionais. Ele, que assim como Almeida possui um Chevrolet Bolt, diz que economiza cerca de R$ 13 mil em combustível por ano. “O carro foi de R$ 175 mil, zero quilômetro, para R$ 225 mil no mercado de usados. E o IPVA e o seguro seguem o valor de mercado”, explica. Essa valorização acontece com algumas marcas porque tem mais gente querendo comprar um carro elétrico do que a indústria tem a capacidade de produzir. E quando o assunto é economia, Gauer tem ainda outra vantagem. “Instalei painéis de energia solar na minha casa e meu custo atual com energia é zero”, diz. Já imaginou andar de carro e não pagar nada por isso e ainda preservar o meio ambiente? Para muitos consumidores, isso já é a mais pura realidade.