A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nunca foi uma unanimidade na direção do partido. No passado, petistas influentes faziam duras críticas a ela, dizendo que era centralizadora e arrogante. Em 2018, por exemplo, Haddad preferia tratar de sua candidatura a presidente da República com Lula na cadeia do que com ela. Mas, desta vez, a deputada paranaense virou o jogo e está mostrando competência, habilidade política e articulação com os 16 partidos que participaram da eleição do ex-presidente, que, no segundo turno, assumiu proporções de uma candidatura de frente de coalizão nacional. Sob sua batuta, o PT está tendo que rebolar para atender a centenas de pedidos de cargos. Afinal, são mais de 300 líderes importantes na transição para apenas 33 ministérios.

Cargo-chave

Por mais que a coordenação da transição seja de Alckmin, está sobrando para Gleisi a interlocução das demandas dos partidos aliados junto a Lula e dos pleitos dos próprios petistas. Ela está se cacifando para assumir a chefia da Casa Civil, que já exerceu com Dilma. Mas pode permanecer na liderança do PT, o que será estratégico neste momento.

Trombada

A movimentação de Gleisi é tão intensa que, às vezes, dá suas derrapadas. Na semana passada, criticou a falta de articulação no Senado, onde o novo governo negocia a PEC do Bolsa Família, atropelando Jaques Wagner, escalado pelo próprio Lula para garantir a aprovação da medida. Ela disse apostar na “solução política” para resolver o impasse.

Cadê a paridade?

Embora Lula tenha prometido buscar a paridade de gênero em seu ministério, a equipe de transição anunciada por Alckmin vai em sentido contrário, causando incômodo entre aliadas. A insatisfação cresceu quando o vice anunciou o nome dos congressistas que atuarão no gabinete (77 homens e 22 mulheres). Exatamente por isso Lula deve anunciar nos próximos dias Simone Tebet para o Desenvolvimento Social.

Retrato falado

“A PEC é irresponsável e insustentável” (Crédito:Zanone Fraissat)

O ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore, disse ao “Valor” que a PEC da Transição proposta por Lula para recriar o Bolsa Família de R$ 600, com gastos de R$ 200 bilhões acima do teto de gastos, “é um desastre”. Para ele, a medida poderá levar a um rápido aumento da dívida pública e gerar maior inflação. Ele acha que o certo seria a PEC retirar do teto de gastos algo como R$ 110 bilhões e se fazer um ajuste no limite das despesas, mas mesmo assim por apenas um ano.

A fuga de Ramos

Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, nega-se a entregar formalmente à Câmara dos Deputados a relação completa das pessoas que acompanharam Bolsonaro ao Reino Unido para o funeral da rainha Elizabeth II, em uma viagem eleitoreira e bancada pelos cofres públicos. Recomenda que os parlamentares peçam isso diretamente ao presidente. “A composição se pauta pelo exercício de discricionariedade por parte do presidente e sua equipe”, escreveu. O general se recusa ainda a explicar quais critérios balizaram a presença na comitiva de nomes como o do pastor Silas Malafaia e do maquiador Agustin Fernandez, amigo de Michelle Bolsonaro.

Dados sob sigilo 

Alegando que os gastos são sigilosos, Ramos apresentou no mesmo ofício apenas números irreais. Disse que encontrou no sistema da secretaria somente despesas com 46 apólices de seguro-viagem, tarifas aeroportuárias e telefonia, no total de R$ 271,9 mil. Nada achou sobre hospedagem e alimentação, por exemplo.

A opção Marinho

Mal consolidou-se como a opção de Bolsonaro à presidência do Senado, Rogério Marinho (PL-RN) já enfrenta a desconfiança de senadores da ala extremista do bolsonarismo. Eles não conseguem vê-lo tocando o processo de impeachment de Alexandre de Moraes, sonho de consumo do grupo. E com razão. O senador esquiva-se quando perguntado sobre o assunto.

Amigos tucanos

Essa ala do PL lembra que Marinho pertenceu por 19 anos aos quadros do PSDB, partido ao qual Moraes era filiado antes de assumir um assento no STF, e pontua que ele jamais “comprou a briga” do bolsonarismo contra o ministro. O favorito para a disputa, contudo, é Rodrigo Pacheco, que deve ser reeleito para o cargo com o apoio inclusive de Lula.

Lira virou barbada

A reeleição de Arthur Lira já é dada como favas contadas, sobretudo depois que o PT decidiu apoiá-lo em troca da aprovação da PEC da Transição. Os petistas prometem também não mexer, por ora, no orçamento secreto, que é a fonte de poder do presidente da Câmara. Lira articula uma chapa única imbatível que pode ter o PP, PT, PL, PSD, União Brasil e Republicanos.

Toma lá dá cá

Jefferson RudyAlessandro Vieira, senador pelo PSDB-SE (Crédito:Jefferson Rudy)

Há chance de a PEC da Transição não prosperar por causa das divergências no Congresso?
Creio que a PEC será aprovada com alterações significativas quanto a prazo e valores. Mantenho o entendimento de que R$ 70 bilhões são suficientes. E o ideal, na minha opinião, é que o texto estabeleça uma data para a discussão de uma nova âncora fiscal.

Como o senhor avalia o nome de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda?
Não conheço a capacidade técnica do Haddad, mas acredito que com uma boa equipe é possível fazer um trabalho aceitável.

Como o PSDB vai se portar na eleição pela presidência do Senado?
Não definimos a posição da bancada. É preciso aguardar a definição do oponente de Rodrigo Pacheco.

Rápidas

* Bolsonaro está cada vez mais isolado. Até a aliança que sustentou sua candidatura a presidente esfacelou-se, restando ao seu lado apenas o partido do mensaleiro Valdemar. PP e Republicanos disseram ao TSE que discordam da decisão do PL de questionar as urnas.

* Ameaçado de ser expulso do partido que fundou por ter declarado voto em Lula, João Amoêdo pediu desfiliação do Novo. Banqueiro, ele gastou R$ 18 milhões do próprio bolso para fundar a sigla. Deveria pedir restituição.

* Na negociação com Lula para ter dois ministérios, o PSD do prefeito Eduardo Paes pode ser contemplado com a indicação de Pedro Paulo, seu braço direito no Rio, para uma das vagas. Em troca, o PT teria espaço na sua gestão.

* Na negociação com Lula para ter dois ministérios, o PSD do prefeito Eduardo Paes pode ser contemplado com a indicação de Pedro Paulo, seu braço direito no Rio, para uma das vagas. Em troca, o PT teria espaço na sua gestão.