Série da Netflix foi inspirada em um adolescente alemão que construiu um império das drogas dentro de seu quarto na casa dos pais. Por meio de entrevistas com o criminoso, novo documentário conta a verdadeira história.Um adolescente que trafica drogas pela internet: assim se resume o enredo da premiada série alemã da Netflix Como vender drogas online (rápido), cuja terceira temporada entrou recentemente no catálogo da plataforma de streaming. A comédia foi inspirada em um traficante da vida real, o alemão Maximilian Schmidt – e agora sua verdadeira história é contada também em documentário.

Recém-lançado pela Netflix, o filme Shiny_Flakes: Drogas online revela como, aos 18 anos, o jovem alemão construiu um verdadeiro império dos narcóticos dentro de seu próprio quarto, sem a família ter conhecimento das atividades ilícitas. O nome do documentário é o mesmo do site em que ele fazia as vendas.

“No início, eu estava nervoso com isso”, diz Schmidt no documentário, lembrando que seu negócio era ilegal e que temia a possibilidade de a polícia aparecer em sua casa. Mas em pouco tempo ele não demonstraria mais hesitação em estar cometendo um crime grave.

A diretora alemã Eva Müller acompanhou Schmidt por vários anos. Sua equipe reconstruiu meticulosamente o quarto de sua infância, com exatamente os mesmos móveis e roupas de cama que ele costumava usar.

Ela fez Schmidt reconstituir cenas, conversar com fornecedores fictícios e embalar comprimidos cor-de-rosa que, na verdade, eram balas em saquinhos. Ela conversou com ele, entrevistou seu advogado de defesa, o diretor da prisão, o promotor público e o perito psicológico de Schmidt.

Em conversa por e-mail com a DW, Müller disse que a ideia do filme era procurar respostas para a seguinte pergunta: como um simples jovem se transformou num criminoso que operava do computador de sua casa?

“Isso é uma loucura”

Por mais de um ano, Schmidt vendeu mais de 900 quilos de haxixe, cocaína, ecstasy, LSD e medicamentos prescritos, de acordo com relatos da mídia. O jovem despachava as mercadorias pelos correios para todo o mundo, usando efetivamente os carteiros como seus mensageiros incautos.

Era um negócio altamente profissional: os pagamentos eram feitos antes de os pedidos serem processados ​​e enviados, “exceto que, em vez de sapatos, eram drogas”, conta Schmidt. Ele administrava sua própria Amazon para quase todos os tipos de drogas, diz o advogado de defesa Stefan Costabel no filme.

Schmidt recebia até avaliações de clientes, uma das quais ele lê em voz alta no documentário: “Dois dos meus dentes caíram imediatamente, essa parada realmente te ferra.” Com expressão de satisfação, o rapaz sorri, parecendo bastante contente consigo mesmo.

Segundo a diretora Müller, essa satisfação de Schmidt é relatada também pelo psicólogo nomeado pela Justiça. “O psicólogo, que escreveu um relatório sobre ele ao longo do julgamento, disse o seguinte sobre Maximilian Schmidt: 'Não houve nem arrependimento nem culpa, mas orgulho.'”

Müller conta que Schmidt parecia mesmo feliz em narrar sua história para todos; caso contrário, ele não teria concordado em fazer o filme. Por isso também a diretora fez questão de falar com policiais, advogados e outras pessoas envolvidas no caso, para mostrar uma perspectiva equilibrada no documentário.

Em uma das cenas, Müller pergunta a Schmidt se ele nunca teve a consciência pesada, já que era responsável por transformar clientes em dependentes químicos. A resposta foi negativa: se não comprassem dele, conseguiriam suas drogas em outro lugar. E, aparentemente, os interessados o encontravam por meio de uma simples busca no Google. “Isso é loucura”, disse Schmidt. “Mas num sentido positivo.”

Milhões de euros em drogas apreendidas

Vários pacotes de drogas não entregues acabaram levando os investigadores até Schmidt, segundo relatos da mídia alemã. Em fevereiro de 2015, a polícia prendeu o jovem, à época com 20 anos, no apartamento da família em Leipzig, no leste da Alemanha. Na operação foram apreendidos 320 quilos de narcóticos no valor de vários milhões de euros.

Schmidt foi condenado a sete anos de prisão, em penitenciária juvenil. Quatro anos depois, em 2019, foi libertado.

Segundo a rede de notícias alemã Redaktionsnetzwerk Deutschland, Schmidt voltou a ser investigado por vender drogas ilegais após deixar a prisão – embora desta vez provavelmente não esteja sozinho na atividade. Esse ponto também é abordado no filme por Petric Kleine, chefe do Departamento Criminal Estadual (LKA) da Saxônia.

A diretora Eva Müller diz estar feliz com a forma como o filme foi montado, também por ser muito difícil retratar visualmente um crime que aconteceu na internet. “Acho que tivemos sucesso em mostrar um crime online de uma maneira empolgante, divertida e esclarecedora”, conclui a cineasta.