Quando se usa a expressão “uma imagem vale mais que mil palavras” não é comum vir à mente que tal imagem possa ser o selo de um país inexistente. Mas um pequeno pedaço de papel é capaz, sim, de contar a história de nações que pouca gente conheceu e que não existem mais. Vale, entre tantos exemplos, o do Estado Livre de Danzig, que se localizava onde hoje está a Polônia. Existiu somente por dezenove anos e foi aniquilado quando as tropas nazistas de Adolf Hitler o invadiram e o baniram do mapa-múndi, na Segunda Grande Guerra. Um simples selo pode, dessa forma, preencher lacunas de registro e conhecimento histórico. Esse é o objetivo, muito bem cumprido, do livro “Lugar Nenhum – um atlas de países que deixaram de existir” (editora Rua do Sabão), escrito pelo norueguês Bjørn Berge e recém-lançado no Brasil. A obra tem, portanto, a finalidade de contar, por meio de selos que sobreviveram ao tempo, abrangendo o espaço que vai de 1840 a 1975, o passado de nações extintas.

O Estado Livre de Danzing, antes de ser tomado pelos alemães, era dominado por poloneses — e, por isso, seu selo marca a acirrada disputa entre administradores e a população em geral. Contém o desenho de um navio, remetendo a sua tradição portuária, e, nele, lê-se “Correio Polonês”. “Apesar de curta, a obra transmite conhecimento sem ter o tom acadêmico”, diz o tradutor Leonardo Pinto da Silva.

Também há no livro histórias de países que mal chegaram à infância, mas, mesmo assim, mudaram a organização social de suas épocas.  É o caso da gigante República do Extremo Oriente (seu território era cinco vezes maior que o da Alemanha e ficava no lado leste da Rússia), que durou apensa dois anos. O selo da coleção de Berne eterniza esse Estado, fundado por socialistas liberais e que chegou a ser reconhecido pela extinta União Soviética. Com tal reconhecimento diplomático, a comunista e autoritária ex-URSS queria dar a si uma aparência democrática. No selo da República do Extremo Oriente há uma âncora e um martelo sobrepostos, nítida referência ao símbolo comunista no qual, em lugar da âncora, há uma foice. Ao unir a paixão pela filatelia à paixão por países extintos, o escritor Berge torna-se um original professor de história de diversos períodos geopolíticos da humanidade. Faz trinta anos que ele roda o mundo, de ceca a meca, nessa missão.

JORNADA Bjørn Berge: pesquisa minuciosa ao longo de trinta anos (Crédito:Divulgação)