Marcelo Queiroga bem que poderia ter lido Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho é autor de uma frase que muito teria ajudado o ministro da Saúde nas últimas horas. Escreveu Machado, que as pessoas devem se poupar do vexame, que é uma sensação penosa, e devem se poupar da hipocrisia, que é um vício hediondo. Queiroga deu a si mesmo o vexame e a hipocrisia. Pegou mal para ele, como ministro; pior ainda, como médico.

Queiroga procrastinou o quanto pôde o início da vacinação de crianças na faixa etária de 5 a 11 anos. Cumpriu ordens de Jair Bolsonaro, mas isso é problema dele; o nosso problema é que temos um médico que não cumpre os juramentos feitos quando se tornou profissional: o compromisso, acima de tudo, com a saúde e a vida alheia. Ele foi uma pedra no caminho das crianças brasileiras.

É inacreditável, mas Queiroga apressou-se a aparecer diante de cinegrafistas e repórteres fotográficos para ser visto segurando caixas de vacinas que chegaram ao Aeroporto Internacional de Viracopos, na cidade paulista de Campinas. Vexame total e hipocrisia total.

Foi um jeito torto e desajeitado: desejoso de ser eleito deputado, senador, governador, ele montou a farsa de que lutou o tempo todo pela vacinação de crianças. Ele, justo ele, que teve a covardia de afirmar, no caso dos imunizantes e em meio ao agravamento da pandemia, que “a pressa é inimiga da perfeição”.

Na hora de posar como paladino da vacinação, aí ele se apressou. E se fez inimigo da perfeição. Foi um vexame Queiroga aparecendo (visivelmente querendo estar bem na foto) a segurar a caixa de vacinas. Foi hipocrisia.