Os preparativos para a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro indicam que seu filho 02, o vereador Carlos (Republicanos-RJ), à frente do gabinete do ódio e chefe dos projetos digitais e de marketing do pai, vem cheio de más intenções para o pleito, querendo investigar e infernizar a vida de adversários e invadindo equipamentos e redes para impulsionar narrativas deturpadas. Pelo menos esse é o principal objetivo dos sistemas de espionagem da empresa emiradense DarkMatter, especialista em softwares maliciosos que oferece seus recursos para governos autoritários e serviços secretos de todo o mundo interessados em informações privadas e pessoais para vigiar e torturar psicologicamente seus desafetos. Segundo reportagem do UOL, Carlos mandou um emissário para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para conhecer detalhes do sistema e negocia a aquisição do produto. Se conseguir comprá-lo – a bancada do PSOL tenta no Ministério Público impedir a transação –, ele terá mais uma ferramenta para usar na próxima corrida presidencial, na qual deverá valer todo tipo de truque sujo.

ESPIONAGEM A DarkMatter, de Faisal Al Bannai: soluções para regimes autoritários (Crédito:Jon Gambrell)

Do gabinete do ódio se espera qualquer artifício para desinformar e criar insegurança e incerteza na população, como o uso aberrante e mentiroso das mídias sociais, a derrubada de sistemas estruturantes do governo com hackers contratados mundo afora por preço de banana ou a capacidade de mobilizar milhões de agentes virtuais e robôs num piscar de olhos para atingir objetivos táticos, como mostrou a sorrateira vitória de Bolsonaro como homem do ano da revista Time em dezembro. Carlos conta com poder de fogo, apoio de extremistas americanos e vai fazer o que puder para perturbar o processo eleitoral, promovendo notícias falsas e denúncias contra os inimigos.

Agora com o DarkMatter, ele reforça suas intenções mais perversas e antidemocráticas, que se expuseram há um ano, quando se soube que ele tentava adquirir outro software espião, o israelense Pegasus. O trabalho de espionagem, fora da alçada da Polícia Federal e da Abin, faz parte do plano de ações do Gabinete do Ódio. No documento enviado ao Ministério Público, o PSOL pede que se investigue com urgência se o núcleo de comando digital do governo “pretende utilizar o programa DarkMatter para perseguir aqueles que criticam o atual presidente da República”. Pede também que “as instituições democráticas atuem para frear o viés autoritário e antidemocrático do governo Bolsonaro”.

REDES O clã Bolsonaro trata de fortalecer sua adesão à Gettr, rede criada por Jason Miller, ex-assessor de Trump (Crédito:Al Drago)

Sem o efeito mistificador da facada em Juiz de Fora, Carlos terá que ser absurdamente mais eficiente e inescrupuloso nas mídias digitais para conseguir reeleger o pai. Ele não terá o apelo emocional de martírio e sofrimento que impulsionou a campanha passada, inclusive porque a população já se cansou dessa choradeira e durante a pandemia, Bolsonaro mostrou que é um desalmado e não merece piedade. Pelo Twitter, que na semana passada, inclusive, aumentou suas barreiras de fakenews com um botão de denúncia, a família percebeu que não terá chances de fazer o que quiser e prosperar tanto como em outros tempos. Bolsonaro já teve várias postagens negacionistas e mentirosas apagadas na rede. No WhatsApp, boicotado pela extrema-direita, o clã viu que haverá limites para mentiras e no alcance da distribuição das mensagens. Resta-lhe o indefectível Telegram, mensageiro russo com regras flexíveis, que aceita a propagação de todo tipo de absurdo, e as novas mídias extremistas, como o Gettr, criado por Jason Miller, ex-assessor de Donald Trump. Nos últimos dias, Carlos promoveu sua conta no Gettr, que garante liberdade de expressão para ataques à ciência e para manifestações antivacina. Seus irmãos Flávio, o 01, e Eduardo, o 03, também usam o serviço. Em relação ao Telegram, o ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do TSE, estuda a possibilidade de bani-lo do Brasil durante as eleições para que não se torne território livre das milícias digitais bolsonaristas.

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No centro do plano de Carlos está perturbar e desacreditar as eleições de todas as formas e os recursos tecnológicos que ele tenta adquirir estão orientados para esse objetivo. Haverá um esforço específico dedicado a bombardear as urnas eletrônicas, dessa vez com a participação direta de Eduardo, conectado diretamente com os marqueteiros americanos da extrema-direita, como Steve Bannon, que acompanha com atenção o sistema de votos no Brasil. A eleição de 2020 serviu de tubo de ensaio para a família testar algumas de suas ideias e o que se viu, por exemplo, foi uma série de ataques covardes aos sistemas do TSE vindos de outros países. Atacar as urnas e defender o voto impresso estão entre as prioridades do pacote de maldades da campanha, assim como espionar qualquer um que coloque empecilhos à reeleição de Bolsonaro. Um jogo bem sujo se insinua e é hora das instituições agirem, como o TSE, para tolher os movimentos do gabinete do ódio e impedir que o processo eleitoral seja desvirtuado pela vontade autoritária do presidente e de seus filhos de se perpetuarem no poder a qualquer custo.