A competição por profissionais de inteligência artificial (IA) está se intensificando em nível global. Empresas de todo o mundo estão buscando talentos qualificados para impulsionar sua inovação e competitividade. A demanda por esses especialistas está crescendo exponencialmente, resultando em uma guerra por talentos. Grandes empresas de tecnologia, como a criadora do ChatGPT, têm enfrentado dificuldades para manter seus profissionais de ponta. Essa tendência reflete não apenas na liderança da empresa, mas também em uma transformação mais ampla na indústria tecnológica impulsionada pela IA.

Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, o mercado se transformou. Cerca de 20 mil empresas no Ocidente estão contratando especialistas na área, de acordo com a Zeki Research, uma empresa de inteligência de mercado. “Hoje quem conseguir fazer a conexão entre negócio e tecnologia será um profissional diferenciado”, comenta Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.

“Hoje quem conseguir fazer a conexão entre negócio e tecnologia será um profissional diferenciado.” Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação

As poderosas Microsoft e Google estão buscando pesquisadores capazes de compreender e construir modelos de IA de ponta. Esses profissionais podem impulsionar a inovação e melhorar a eficiência dos sistemas. Por isso, muitos deles recebem salários que podem chegar a sete dígitos e são contratados sem a necessidade de entrevistas.

Para Lucas Rolin, CTO da plataforma B2B que utiliza IA, a oferta de mão de obra no setor cresce, mas nem perto do ritmo que o mercado demanda. Como consequência, empresas vão atrás de profissionais no meio acadêmico. “Essa mão de obra vem muito das universidades americanas, muitas vezes alunos que estavam ali realizando mestrado, PhD, que são, entre aspas, aliciados por essas grandes indústrias para que larguem a carreira acadêmica e atuem no mercado, recebendo mais de US$ 300 mil (R$ 1.635 milhão) por ano”, explica.

A demanda por talentos em IA tem sido um desafio para as empresas de tecnologia. Existem dois principais obstáculos nesse processo, segundo mostra Arthur Igreja.
O primeiro é encontrar profissionais capacitados na área, uma vez que não há um número suficiente de especialistas no segmento. Embora a modalidade não seja nova, o número de profissionais voltados para ela ainda é limitado.
O segundo desafio é a competitividade, com as gigantes do setor oferecendo salários mais que atrativos, benefícios generosos e oportunidades de trabalhar em projetos de ponta. “Esses profissionais são altamente valorizados e fluentes em inglês, o que permite que eles busquem oportunidades em empresas de qualquer lugar do mundo”, aponta.

João Fouad, um jovem paulistano de 26 anos, especializado em inovação e finanças, é um exemplo do que um talento bem preparado e curioso pode alcançar. Ele foi destacado pela CryptoDaily UK como um dos jovens empreendedores em inovação do ano de 2023 e hoje tem portas abertas em qualquer parte do mundo. “Um grande desafio do mercado é traduzir as verdadeiras necessidades de inovação do negócio para a tecnologia”, declara.

A guerra por talentos em IA: big techs e startups disputam profissionais de ponta
João Fouad, brasileiro, de 26 anos, recebeu prêmio da CryptoDaily UK como um dos jovens empreendedores em inovação de 2023 (Crédito:Cleber Machado)

Não à toa, startups estão investindo em ofertas de participação acionária e ambientes de trabalho dinâmicos, conseguindo competir diretamente com as grandes empresas de tecnologia. De acordo com Alan Nicolas, fundador da Comunidade Lendár.I.A, profissionais de tecnologia estão buscando fazer parte de startups inovadoras. “A cultura de startup proporciona proximidade com os líderes, mentalidade de dono e liberdade para testar a criatividade e influenciar nas decisões”, diz.

Além disso, a IA generativa também está impactando o mercado de talentos em níveis mais baixos. Cada vez mais vagas para desenvolvedores de software mencionam habilidades relacionadas à IA generativa. “Na nossa empresa, incentivamos o uso da inteligência artificial por meio de palestras e treinamentos. Mas não é só para isso. Utilizamos a ferramenta em diversas áreas. Por exemplo, nosso gerente de projetos já a utiliza para estruturar cronogramas de projetos. Ela é uma ferramenta ampla e pode ser aplicada em quase tudo”, conta Rafael Franco, especialista em tecnologia da informação e CEO da Alphacode, empresa que desenvolve projetos no ambiente mobile.

A guerra por talentos em IA: big techs e startups disputam profissionais de ponta
Rafael Franco, CEO da Alphacode, utiliza a IA para além do trabalho (Crédito: Silvia Zamboni; acervo pessoal)

Com todas essas mudanças, os fluxos de talentos estão se alterando. Durante anos, os engenheiros migraram para as grandes empresas de tecnologia, como Alphabet, Amazon, Apple, Meta e Microsoft. No entanto, nos últimos meses houve uma reversão nesse fluxo, com mais profissionais deixando as gigantes da tecnologia em busca de oportunidades em outras empresas.

OpenAI, Databricks e Nvidia, esta última, que atualmente ultrapassou a Apple e Microsoft e virou a empresa mais valiosa do mundo, têm sido destino para esses talentos. Com o mercado de trabalho em constante transformação e a demanda por habilidades em IA em ascensão, as empresas precisam se adaptar e encontrar maneiras inovadoras de atrair e reter os melhores profissionais.