Fala-se muito de potássio, esse incrível metal alcalino, nos últimos dias. E com razão. A guerra expôs a importância e a enorme dependência do Brasil do produto químico. E chamou atenção para as grandes reservas da Rússia e de Belarus, que exportam imensas quantidades para cá e abastecem boa parte do mundo. Sem fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) não há agricultura produtiva em lugar algum. Em certos países como o Brasil, que não dispõe de grandes minas em seu território, possui uma terra desequilibrada e tem sido um dos maiores consumidores, a situação é especialmente crítica, já podendo afetar as próximas safras agrícolas. Para manter o seu agronegócio pujante, o País precisa importar 85% dos fertilizantes que consome e no caso do potássio esse percentual supera 95% e o torna o maior comprador global, com 11,5 milhões de toneladas em 2020. O que preocupa muito agora é um eventual embargo internacional sobre produtos estratégicos da Rússia ou um eventual corte na produção e nas cadeias logísticas por conta da loucura bélica. Seja como for, vai começar a faltar potássio, que já está com os preços em alta.

Canadá, Rússia e Belarus garantem, nessa ordem 66% do potássio que vem para o Brasil: os três são os grandes fornecedores de NPKs no mundo, representando mais de 60% dos embarques globais. Só a Rússia atendeu cerca de 22% das necessidades brasileiras de fertilizantes no ano passado – o país é também grande produtor e exportador dos insumos nitrogenados e à base de fósforo. Embora seja detentor de reservas gigantes, o Canadá, que supriu 32% das importações brasileiras, não é capaz de compensar o inevitável corte de oferta do Leste Europeu. Completamente dependente, o Brasil corre atrás da garantia de contratos, mandando emissários para a Rússia nas últimas semanas, inclusive o presidente Jair Bolsonaro, já que tem pouca opção de soluções internas e vê as metas de produção dos próximos plantios ameaçadas.

As únicas reservas de potássio plenamente exploradas por aqui estão à serviço da Vale, em Sergipe, nas regiões de Taquari/Vassouras e Santa Rosa de Lima, e alcançam 478 milhões de toneladas. Por ano, garantem menos de 5% das necessidades locais. A esperança, com altos riscos ambientais e humanos, vem do Amazonas, da regiões de Autazes, Nova Olinda do Norte e Itacoatiara, onde a exploração a médio prazo pode triplicar ou quadruplicar essa capacidade nacional. Mas os projetos, que tentam sair do papel, afetam áreas de proteção ambiental e humana. A Potássio do Brasil, subsidiária do banco canadense Forbes & Manhattan, agora contando com forte lobby militar dentro do Planalto, começou, por exemplo, a perfurar poços em Autazes, dentro da Terra Indígena Jauary, do povo Mura, em 2015, e teve seu empreendimento paralisado. O que ela tenta, neste momento, aproveitando a onda da guerra, é destravá-lo. Para isso, porém, precisará de autorização do grupo Mura, que ganhou direito de consulta sobre o destino do negócio. Qual vai ser o acordo no Amazonas?