Os ucranianos não chegaram a comemorar o atentado que matou nas proximidades de Moscou a jornalista Daria Dugina na explosão do carro que ela dirigia. Mas um sinal de que se sentiram vingados – uma vez que o pai de Daria, Alexander Dugin, é o principal ideólogo de Vladimir Putin – veio ao longo da semana passada: o entusiasmo demonstrado em conhecer armamentos russos apreendidos em Kiev e, agora, expostos. São os tanques as principais atrações e a população os escala como se fossem brinquedos. Enquanto isso ocorria no país invadido, o Kremlin seguia responsabilizando o serviço secreto da Ucrânia por “terrorismo e guerrilha”, e a polícia russa acusou a cidadã ucraniana Natalia Vovk de “ser a executora do atentado”. Segundo autoridades, “ela esteve no mesmo festival de literatura do qual participaram Alexander e Daria, e, depois, fugiu para a Estônia.

PERÍCIA Soldados e policiais trabalham no local da explosão que matou Daria Dugina, próximo a Moscou: bomba e troca de carros (Crédito:Investigative Committee of Russia via AP)

Estava com sua filha de doze anos”. A morte de Daria deixou claro que as forças internas de segurança da Rússia são menos eficientes do que Putin assegura, e tal fato transmitirá sensação de insegurança à população do país. As lamentações do Kremlin sobre aquilo que Putin chama de “guerrilha” ressoa de forma patética após Moscou ter ordenado o sistemático bombardeio de alvos civis na Ucrânia (inclusive hospitais e escolas). A tática de guerrilha é uma forma de guerra embutida em uma estratégia: sem condições de enfrentar o invasor em igualdade bélica, o comando ucraniano (embora negue autoria do atentado) tentará minar o adversário dentro de suas próprias fronteiras — a exemplo do que já fez quando foram incendiados reservatórios russos de combustível. O alvo do atentado era Alexander, mas ele e Daria, que endossa as teses belicistas do pai, trocaram de carros entre si ao saírem do festival.

Mestres de Putin

PÉSSIMA HERANÇA Alexander Dugin e Daria Dugina: pai e filha unidos no belicismo (Crédito:Divulgação)

Alexander Dugin, estrategista do expansionismo russo e guru ideológico de Vladimir Putin, tinha na filha Daria Dugina a herdeira de sua política belicista. Como jornalista e cientista política, ela exercia a função de comentarista em um canal de televisão estatal, em Moscou, e defendia que os ataques contra a Ucrânia fossem mais intensos e radicais.

GOLPE
A compra de cidadania em um país inexistente

NOME TOMADO EM VÃO O grande continente: lazer e experimentos científicos (Crédito:Sebnem Coskun)

Na última terça-feira 23 a polícia italiana prendeu mais dez suspeitos de participarem de um surpreendente crime na região da Calábria – já são agora vinte e dois detidos. A quadrilha vendia certificados de cidadania de um país inexistente: Estado Teocrático Antártico de San Giorgio. Os falsos vendedores faturaram cerca de quatrocentos mil euros e convenciam os incautos de que, em tal país, os impostos eram com valores módicos e não havia a obrigatoriedade de vacinação contra a Covid. Os certificados oscilavam de preços entre duzentos e mil euros – esses últimos dariam, segundo os estelionatários, títulos de nobreza. Ludibriadores falsificavam trechos do verdadeiro Tratado da Antártida, assinado em 1959.

O Tratado da Antártida

1959 Assinatura do acordo nos EUA: válido até 2041 (Crédito:Divulgação)

Em dezembro de 1959, nos EUA, doze países assinaram o Tratado da Antártida, que assegura justamente o contrário do golpe dado. Pelo documento, todas as nações que se interessavam por regiões continentais da Antártida abriram mão de suas pretensões, pelo menos até 2041, destinando toda a região à comunidade internacional interessada em pesquisas científicas.

AMÉRICA LATINA
Colômbia se distancia do movimento antiaborto internacional

FESTA Mulheres comemoram a saída do país do Consenso de Genebra: nova era (Crédito:RAUL ARBOLEDA)

A Colômbia, presidida por Gustavo Petro, deixa a aliança conservadora global chamada Consenso de Genebra, liderada pelo Brasil de Jair Bolsonaro. O acordo, sem caráter vinculante, foi criado no ano 2000 pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Seus membros se definem como antiaborto e a favor dos “valores da família tradicional”. Na prática, a saída da Colômbia representa uma drástica mudança da política externa do país e o enfraquecimento das pautas defendidas pela extrema direita em todo o mundo.