O filme começa com uma citação gozada sobre a rixa entre brasileiros e argentinos e termina com a afirmação de Churchill de que a vitória seria resultado da resistência a uma série de derrotas. Tudo para contar a história de uma grande dama do pôquer, cujo nome é o de uma personagem de Ulisses, de James Joyce. Esta é a “saga” de Molly Bloom em A Grande Jogada, de Aaron Sorkin, que estreia nesta quinta, 22.

A jovem Molly (Jessica Chastain) começa como esquiadora, atleta de nível olímpico que sofre um acidente improvável e precisa se reciclar. Seu pai é um psicólogo ultraexigente (Kevin Costner) e incute na filha o ideal do sucesso a qualquer preço. Ideologia, aliás, que é parte indissolúvel do ethos norte-americano.

Molly trabalha como garçonete até ser contratada como garota auxiliar de jogos de pôquer por um espertalhão da área. Sabida, aprende rápido os macetes da profissão e descobre que poderia ganhar muito mais se estabelecendo por conta própria do que vendendo sua força de trabalho para outro. Mais-valia é isso aí, e Molly encarna, como ninguém, o espírito de empreendedorismo do nosso tempo. Como censurá-la?

Acontece que o filme é a história de uma espiral sem fim de piração, noites maldormidas, jogatinas e excitação a mil. Para administrar sua “casa”, Molly precisa de aditivos para manter-se acordada. E depois de outros para dormir. E assim vai.

Para funcionar bem, a história, inspirada em caso real (e baseada em livro da autora), precisa imprimir na tela o ambiente lisérgico que deveria ser a vida de Molly. E, em parte, ele o faz. Em especial, porque Jessica Chastain se entrega com garra ao papel. Incorpora a garota ambiciosa, que procura seus fins sem ligar para os meios. Para conseguir chegar aos seus objetivos, dá um tempo para considerações éticas, e põe o raciocínio para trabalhar a todo vapor.

Esse ritmo é empolgante, e pode levar o espectador ao esgotamento. O filme é longo: 2h20. Como uma maratona disputada em pique de cem metros rasos. A história é narrada em primeira pessoa, e a toda velocidade. O roteiro deve dar um livro de 400 páginas. Deve-se prestar muita atenção ao que diz a protagonista e ler as legendas com olhos de águia. Piscou, perdeu.

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Além do mais, há os vaivéns no tempo, pois a narrativa não é linear. Acompanhamos a trepidante história de Molly Bloom à medida que ela a revive para o advogado que defende sua causa. O que, entre outras coisas, faz de A Grande Jogada uma trama de relacionamento entre advogado e cliente e um drama de tribunal, além de reservar algumas cenas para uma DR entre pai e filha.

Não é mau filme, não. Um tanto cansativo, inclusive pela estratégia da rápida narração em off e os riscos de redundância que dela decorrem. Mas, se nos concentrarmos no trabalho de Jessica Chastain, as longas 2h20 passam muito bem, e em boa companhia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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