“A gente não sabemos escolher presidente.” Ultrage a Rigor

Quem não se lembra desse verso, do clássico dos anos 1980?

Clássico e profético porque, passadas quatro décadas, impeachment, prisão de ex-presidente e outras escolhas duvidosas, não avançamos um palmo.

E não foi apenas a banda de rock que eternizou nossa incompetência.

Pelé, aquele que Romário afirma que calado é um poeta, rimou com a banda, dez anos antes, ao proferir a célebre frase “o brasileiro não sabe votar”.

A gente não sabemos escolher presidente.

Mesmo.

Lamentavelmente, nossa incompetência não se limita ao pleito pelo cargo mais alto do Executivo.

No Legislativo já elegemos palhaços, iletrados me até ator pornô.

Nada supera, no entanto, o projeto de lei do deputado federal João Caldas, que obriga a comunicação de qualquer informação sobre alienígenas visitando nosso País.

Alienígenas de outros planetas, que fique bem claro, após um OVNI ter sido avistado no Ceará.

A gente não sabemos, pois, escolher deputados federais.

No Senado, conseguimos colocar a espetacular Damares Alves, mestre em direito pela escola da vida.

Desnecessários mais exemplos.

A gente não sabemos, também, escolher senadores.

No Mato Grosso do Sul, em 2018, o “pesquisador” Urandir de Oliveira, recebeu moção de congratulação por ter “provado incontestavelmente” que a Terra é plana.

A vida são escolhas, diz o dito popular. E nós escolhemos tudo errado. Sempre

É meu amigo.

A gente não sabem os escolher deputados estaduais.

Vereadores, então, esquece.

Ou melhor, lembre-se do inspirado projeto do vereador Jota Silva, do PSB de Campinas: a criação do dia “Dia do gol da Alemanha”.

De acordo com o vereador, em todos os dias 8 de julho, aniversário do inesquecível 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa de 2014, Campinas realizaria eventos para lembrar “da pior tragédia do futebol Brasileiro”.

A gente não sabemos escolher vereadores.

Então ao menos a escolha dos governadores e prefeitos poderia nos redimir.

Quem sabe se, num espasmo de lucidez, o brasileiro optasse por nomes de competência indiscutível e moral ilibada.

Mas a esperança foi vencida pela realidade e o Rio de Janeiro desponta líder de um ranking nefasto.

Wilson Witzel, eleito governador, foi afastado.

Seus predecessores no cargo, Luís Fernando Pezão – esse condenado a 98 anos de prisão –, Sergio Cabral, Anthony e Rosinha Garotinho, Moreira Franco, foram todos parar na cadeia.

Resta dúvida?

A gente não sabemos escolher governadores. Nem prefeitos.

Por que estou lembrando desses casos?

Desconfio, alias, que essas escolhas erradas não são coincidências, nem exceções.

São, sim, um traço cultural do brasileiro, adquirido a base de Educação paupérrima.

Quem dera Darcy Ribeiro estivesse por aqui, para nos ensinar todos os porquês desse comportamento.

Somos um povo onde cada indivíduo comete sua dose de escolhas estapafúrdias sem nenhum constrangimento.

O que nos leva ao brasileiro Tite.

O fiasco da Seleção de 2022 foi apenas isso.

O resultado das escolhas erradas de um único brasileiro.

Por isso, não se irrite com o ex-treinador da Seleção Canarinho.

Não o culpe por escolher levar o Daniel Alves.

Não fique resmungando que ele deveria ter colocado Neymar no lugar de Rodrygo para bater o primeiro pênalti.

Não é culpa dele.

Tite foi só mais um brasileiro, exuberando em seu direito de escolher tudo errado.

O resultado não é nada de novo: A gente não sabemos ganhar Copa do Mundo.