Quem foi Tarsila do Amaral? Uma mulher extremamente sensível e com sorriso sempre presente nos lábios que não traduzia as vicissitudes que enfrentou na vida. Pode-se resumir assim o livro da historiadora Mary Del Priore Uma Vida Doce-Amarga. O que atrai na obra é o fato de ela esmiuçar a vida de Tarsila (1886-1973), mostrando que nada foi um mar de rosas no destino daquela que hoje é considerada uma das maiores pintoras da América do Sul. Tarsila foi alvo constante da cultura do patriarcado, nela abrangida a crítica que não permitia o reconhecimento de uma mulher que estava revolucionando a arte no País — e buscando a identidade nacional ao colocar em suas telas uma diversidade de paisagens, gente, formas e costumes característicos do Brasil. Fisicamente, Tarsila também sofreu com a paralisia decorrente de uma cirurgia. A sua obra mais famosa, Abaporu, de 1928 (quem lhe deu nome foi Oswald de Andrade), não alterou, em vida, a sua sina — ela morreu pintando sob encomenda. Pagava com seus quadros as consultas espirituais do médium Chico Xavier. Mary Del Priore dá, com seu livro, uma definitiva, inteligente e enriquecedora contribuição à cultura brasileira.

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Excelente aula de combate à lavagem de dinheiro

Já faz tempo, muito tempo, que os brasileiros ouvem duas expressões que geralmente se fazem acompanhar uma da outra: lavagem de dinheiro e corrupção. Nada mais oportuno, portanto, que o excelente livro Lavagem de Dinheiro, que desembarca nas livrarias em todo o País. Seus autores, os advogados Pierpaolo Cruz Bottini (professor livre docente do Departamento Penal, Criminologia e Medicina Forense da Faculdade de Direito da USP) e Gustavo Henrique Badaró (professor livre docente de Direito Processual Penal da Faculdade de Direito da USP), têm o mérito de transformar um tema pleno de tecnicismos jurídicos em uma linguagem didática e compreensível ao público em geral – com casos e exemplos dos principais canais de “lavanderia”. A obra, uma aula sobre como combater esses dois delitos, traz atualizações da evolução do aparato tecnológico e marcos legais regulatórios, além das novas regras que vigoram na União Européia. Aos advogados e leigos, o livro Lavagem de Dinheiro é leitura imprescindível.

GABRIEL REIS

“Boa parte dos recursos de origem criminosa, a partir da lavagem de dinheiro, entra na economia com aparência legal” Pierpaolo Cruz Bottini, advogado

SOCIEDADE
Democracia de gênero ainda é utopia

COMUNIDADE LGBTQIA+: o triplo de probabilidade de sofrer agressões (Crédito:Fernando Podolski)

O Brasil ainda está longe da democracia de gênero. Estudo inédito, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, constatou que é três vezes maior a probabilidade de gays, lésbicas e bissexuais sofrerem agressões físicas se comparados a heterossexuais. O trabalho da UFMG tomou como base dados da Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE.

• 14,7% das lésbicas, dos gays e bissexuais entrevistados relataram já ter sofrido algum tipo de violência. Essa percentagem caiu para 3,82% entre os heterossexuais.

• As mulheres são mais vulneráveis à violência, quando comparadas aos homens, tanto na comunidade LGBTQIA+ quanto na comunidade hetero.

• A violência a qual homens e mulheres gays, lésbicas e bissexuais estão mais expostas ocorre no campo sexual.

JUSTIÇA
Boate Kiss, dez anos de impunidade

AGONIA Quando os bombeiros chegaram à casa noturna já era tarde demais: 242 jovens mortos (Crédito:Deivid Dutra)

Nessa sexta-feira 27 completam-se dez anos da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sem que ninguém tenha sido punido. O caso ficou famoso internacionalmente devido às condições em que aconteceram as mortes de 242 pessoas. A casa noturna estava lotada de jovens e a diversão dava-se normalmente. De repente, em meio à festa, o ambiente foi tomado por fumaça tóxica produzida por um incêndio. As portas de saída estavam trancadas e, quando as pessoas do lado de fora deram-se conta do que estava acontecendo, já era tarde. Após a calamidade houve muitas idas e vindas na Justiça, até que o Ministério Público concluiu tratar-se de homicídio e considerou culpados os sócios da boate: Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o auxiliar de palco, Luciano Bonilha Leão. Os quatro foram sentenciados pelo Tribunal do Júri a penas de dezoito a vinte e dois anos de prisão. O Tribunal de Justiça, porém, anulou e revogou as prisões, no ano passado, sob o argumento de descumprimento de regras na formação do Conselho de Sentença. O MPE recorreu da decisão.

Correção
A imagem utilizada na capa da edição 2764 é uma fotomontagem meramente ilustrativa