A fútil vida dos bilionários

A fútil vida dos bilionários

Se você faz parte da seleta lista de pessoas que podem ser consideradas bilionárias – acredita-se que sejam duas mil em todo o mundo –, talvez a sua vida não seja um mar de rosas. Depois que se alcança um patrimônio como o de Jeff Bezos, fundador da Amazon, de U$ 205 bilhões (mais de R$ 1 trilhão), não há muita coisa que você não consiga fazer ou comprar. Prova disso é a corrida espacial de Bezos, Elon Musk e Richard Branson. No espaço é possível ser o primeiro: inovar, torrar dinheiro em turismo espacial e quem sabe até povoar Marte, como deseja Musk, o dono da Tesla.

Com tanto dinheiro, até as coisas que meros mortais nem ousam sonhar, custam pouco. O iate mais caro do mundo? Apenas U$ 65 milhões. Um imenso diamante azul? U$ 50 milhões. A obra de arte que arrematou o maior valor da história? U$ 460 milhões. O que comprar quando se pode comprar tudo? No que investir quando a sua poupança vale mais que todo o produto interno bruto de diversos países?

Quando se chega nesse patamar financeiro, no entanto, há coisas que o dinheiro não compra. O exemplo mais claro disso é o de Bill Gates, bilionário fundador da Microsoft. Seu objetivo de ganhar o Nobel da Paz ainda não aconteceu e talvez nunca aconteça – principalmente agora que seu divórcio com Melinda Gates arranhou a sua imagem de bom moço. Gates passou anos de sua vida dedicado ao sucesso da fundação de caridade “Bill e Melinda Gates” – para a qual doou grande parte da sua fortuna. Seus projetos ambiciosos, contudo, ainda não mudaram o curso da história. Acabar com a pobreza, a fome, a malária, levar água potável para o continente africano, contribuir com a vacinação em massa da população do planeta – nada disso garantiu o tão desejado prêmio. E, imaginando um cenário hipotético em que Gates suborna toda a organização do Nobel e fosse então laureado com a honraria, a sensação de conquista não seria a mesma.

Já o que deixa Elon Musk acordado à noite é a vontade de revolucionar a indústria de carros elétricos e a futura conquista do espaço por seres humanos. Musk não usa roupas de marca, vendeu todas as mansões e atualmente mora em uma casa pré-fabricada. Sua fortuna de U$ 176 bilhões é investida em seus projetos e suas ações na bolsa de valores. Seu objetivo é fazer com que o futuro seja diferente e apenas dinheiro não fará a diferença, é preciso ralar e construir pontes.

Enquanto esses e tantos outros endinheirados ao redor do mundo vivem a vida sem nenhuma amarra, surge a velha discussão sobre taxar as grandes fortunas, tanto no Brasil como no mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, bilionários como Bezos são os que menos pagam impostos. O ex-presidente Donald Trump passou 16 anos pagando apenas U$ 750 anuais ao fisco de seu país – alegando que seus prejuízos eram maiores do que seus lucros. Aqui no Brasil, o ministro da Economia Paulo Guedes, com sua defeituosa proposta de Reforma Tributária, defende a taxação de lucros e dividendos no valor de 20%, algo que infelizmente não atingirá apenas os donos de grandes brancos e investidores do mercado de ações, mas sim qualquer dono de empresa seja ela do tamanho que for.

O que se discute em tempos de grande desigualdade social é a taxação das riquezas fora dos padrões – como as bilionárias – e assim aumentar a arrecadação federal (imposto que em teoria é redistribuído para a melhoria dos bens e serviços ofertados à população de um país). Se para um bilionário, comprar uma obra perdida de Leonardo Da Vinci é um detalhe, pagar uma porcentagem maior de impostos não abalará em nada sua carreira, seus planos de grandeza e nem menos impedirá com que siga investindo em seus projetos megalomaníacos.