O presidente Messias, como homem do povo e bom palmeirense, deveria levar mais a sério o fato de o Brasil ser o país do futebol. Ou um dia foi, pois o 7×1 nos enfiado pela Alemanha ainda intoxica as vísceras de muita gente. Mas, independentemente dos fracassos eventuais, é inegável que corre em nossas veias a tradição e a malemolência do esporte que consagrou Pelé, Rivellino, Biro-Biro e outros ídolos. Então, por que não buscar exatamente nessa fonte de tantas alegrias as saídas para nosso futuro?

Em vez de tentar inventar a roda, como a cada governo que entra, acho que o presidente tem uma enorme oportunidade de entrar para a História como o homem que trouxe o melhor dos gramados para a nossa democracia. Se pensarmos bem, a política pode aprender muito com o futebol, que nos últimos anos se modernizou mais do que qualquer sistema de governo. Por exemplo, poderíamos começar pela imediata instalação do VAR no STF.

Olha que maravilha. Erros de arbitragem na suprema corte, nunca mais. Minha proposta é a seguinte: os ministros tomariam lá suas decisões como sempre tomaram, com as inevitáveis polêmicas inerentes a qualquer juízo. No entanto, numa sala ao lado, uma equipe assistiria à sessão pela TV e, por vários ângulos, reveria as decisões que foram tomadas, uma a uma, inclusive podendo se valer de recursos eletrônicos, como a câmera por baixo da mesa. A qualquer eventual equívoco, eles parariam tudo.
Num ponto eletrônico, o presidente do Supremo seria informado de uma possível infração e que a decisão precisaria de revisão. Ele caminharia até um monitor instalado ao lado de sua mesa. Pela regra, poderia inclusive usar sua toga para cobrir a tela, enquanto revê a votação e confabula com os árbitros de vídeo da sala ao lado. Em seguida, voltaria para sua poltrona para validar ou não a decisão colegiada. Muito mais moderno e democrático.

Outra coisa: implantação de um sistema de cartões amarelos e vermelhos no Congresso Nacional. Se já estivéssemos utilizando o meu projeto, o nobre deputado federal Alexandre Frota não teria sido expulso de seu partido, o PSL, pelas críticas que fez ao presidente. Antes, ele receberia um cartão amarelo como advertência, já que a falta não foi lá tão grave. Afinal, o ilustre deputado não entrou por trás, nem agrediu ninguém fora do lance. A jogada foi dura, mas convenhamos, não era para expulsão, ainda mais num primeiro mandato que está no início.

Outra coisa: os políticos que apresentassem projetos importantes apareceriam nos gols da rodada do Fantástico. Um estímulo a mais. Claro que seria raro o caso de pedirem música, afinal, tem gente que passa décadas na carreira parlamentar sem dar um bola dentro, que dirá emplacar três numa única semana.

Bandeirinhas? Fundamentais. Seriam convocados dois para cada ministério. Um à direita e outro à esquerda. A principal função desses auxiliares seria a marcação de impedimentos. Um ministro da Justiça que interferisse numa investigação, por exemplo, estaria claramente em posição irregular.

– Não pode ficar na banheira, ministro ­— alertaria o bandeira. Cartão amarelo para quem insistisse na catimba.
Para nós, da torcida, seria muito mais fácil compreender o que está acontecendo no campo — da política. Os ministros, aliás, passariam a ser chamados de técnicos — ou professores —, já que são eles que escalam os times e definem as táticas. Sem contar que a votação da Reforma da Previdência teria sido narrada pelo Galvão Bueno, com direito à musiquinha do Senna depois da aprovação.

Só um detalhe me preocupa — e muito: considerando que o presidente da República, nesse novo modelo de governo, seria o cartola responsável pelas contratações e pelo estádio, vai que Bolsonaro decida transformar a Amazônia num enorme gramadão? Aí, já viu. Vermelho certo para ele. Mas, pensando bem, o melhor seria mudar a cor do cartão para evitar reclamações.

Vamos adotar VAR nas decisões do STF, cartões amarelos e vermelhos no Congresso Nacional e bandeirinhas de ambos os lados do campo em cada Ministério. Meu único receio é com as interferências do chefe da cartolagem