Bolsonaro comprou o apoio do Centrão, mas demorou a honrar o pagamento. Vários ministros resistiam a entregar cargos aos deputados que compõem o grupo (PP, PTB, PSD, PL, Republicanos e outros). O mais intransigente era o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ele se recusava a disponibilizar o FNDE para o PL de Valdemar
da Costa Neto. Alegava ser contra o toma lá dá cá, que o próprio Bolsonaro renegava na campanha. O general Braga Netto (Casa Civil) chegou a pressioná-lo nesse sentido. Disse que essa era uma promessa do presidente, carente do Centrão para impedir o impeachment. Weintraub chegou a dizer a Braga Netto que preferia ser demitido. O Centrão estava mais do que impaciente e Valdemar esteve próximo de romper o acordão. Mas Weintraub cedeu.

Loteamento

Na segunda-feira, 18, o governo nomeou para o FNDE o advogado Garigham Pinto, ligado a Valdemar, o mesmo que foi condenado a sete anos de cadeia por causa do mensalão do PT. Paulo Guedes também resiste em entregar o Banco do Nordeste ao Centrão. Onyx Lorenzoni e Ernesto Araújo mostram-se incomodados com o loteamento de cargos: corrupção à vista.

Impeachment

O presidente sabe que precisa acelerar o passo para atender o Centrão. Afinal, dormem na mesa de Rodrigo
Maia 32 pedidos de impeachment. E, sem o Centrão, Bolsonaro não sobrevive. Sobretudo agora que o ministro Celso de Mello, do STF, mandou avisar que há um grupo de advogados pedindo que Maia analise os pedidos de afastamento. Corre Bolsonaro.

A velha política

Pedro Ladeira

O presidente está trazendo de volta para o governo figuras emblemáticas da velha política, que ele tanto desprezou na campanha e também no começo do governo. Acaba de nomear para o Conselho da Itaipu Binacional os ex-deputados Carlos Marun (MDB), ex-ministro de Temer, e José Carlos Aleluia (DEM), que foi da tropa de choque de Eduardo Cunha. Os dois são conhecidos defensores da barganha no Congresso.

Rápidas

* O ministro Luís Roberto Barroso assume a presidência do TSE na segunda-feira, 25. Vai comandar o processo eleitoral deste ano. Provavelmente no próximo dia 12 de junho ele deverá anunciar a prorrogação das eleições municipais para novembro ou dezembro.

* Barroso vai coordenar também o início das eleições presidenciais de 2022, mas o auge da corrida eleitoral da sucessão de Bolsonaro ficará a cargo de Edson Fachin, que assumirá o TSE em maio de 2022. Um pepino a menos.

* Marcelo Freixo (PSOL) desistiu de ser candidato a prefeito do Rio. Abre caminho para o fortalecimento de um candidato do centro, como Paulo Marinho, que está em evidência por causa da denúncia contra Flávio Bolsonaro.

* Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas corre com poucos adversários. Haddad (PT) e Datena (MDB), fortes concorrentes, desistiram. O PT lança o inexpressivo Jilmar Tatto e o PSL deve ir mesmo de Joice Hasselmann.

Retrato falado

“A vida é feita de escolhas e eu escolhi sair” (Crédito:Andressa Anholete)

O oncologista Nelson Teich mostrou que não se presta ao papel de fantoche, como queria Bolsonaro. Pressionado pelo presidente a recomendar a cloroquina como medicamento para o tratamento da Covid-19, contrariando a ciência, Teich pediu para sair. O ministro, que ficou menos de um mês no cargo, também se recusava a acabar com o isolamento social pregado pelo inquilino do Planalto. Mostrou dignidade. Agora, o capitão cloroquina terá que encontrar outra marionete.

Wajngarten, o censor

O chefe da Secretaria de Comunicação da presidência (Secom), Fábio Wajngarten, continua dando seguimento à sua política fascista de censurar os veículos da imprensa independente. Além de negar anúncios oficiais à mídia que critica as medidas de Bolsonaro, agora Wanjgarten exige que os donos das empresas anunciantes aliados ao governo não veiculem suas propagandas privadas na mídia livre. O publicitário do governo esquece-se que controle absoluto da imprensa só acontece em ditaduras e o Brasil vive em um regime democrático.

A coluna apurou que apenas um grande anunciante cedeu às pressões antidemocráticas de Wajngarten. Nem no governo do PT isso aconteceu.

Novo hospital

O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, entregou na semana passada o maior hospital do País dedicado exclusivamente ao combate à Covid. Ao lado do governador João Doria, Morando inaugurou 250 leitos, dos quais 80 UTIs e 170 enfermarias, instaladas em um prédio de sete andares. A cidade passa a ter 517 leitos só para coronavírus.

Investimentos

Para construir o hospital, o prefeito Orlando Morando investiu R$ 127,6 milhões de recursos da própria prefeitura. O Estado deu R$ 20 milhões para a compra de respiradores. Até o governo federal colocou dinheiro na obra: R$ 25 milhões. A Covid-19 dispensa disputas políticas. Em primeiro lugar está a saúde. As eleições são só daqui a dois anos.

Fake News

E Wajngarten foi ainda mais longe esta semana. Publicou no Twitter que o governo pensa em rever a decisão do Banco do Brasil de deixar de anunciar no site O Jornal da Cidade Online, condenado pela Justiça a pagar uma indenização de R$ 150 mil a Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, por difundir fake news.

General cloroquina

GABRIELA BILÛ

Interino na Saúde, o general Eduardo Pazuello vai liberar o uso da cloroquina para tratamento da Covid, receitada por Bolsonaro, que não é médico. Pazuello vai recomendar a droga, o que seus antecessores recusaram. A ciência mostra que o remédio tem efeitos colaterais, como ataques cardíacos e cegueira.

Toma lá dá cá

Delegado Marcelo Freitas, Deputado (PSL-MG) (Crédito:Divulgação)
Divulgação

Bolsonaro comete crimes de responsabilidade ao interferir na PF?
A análise do eventual crime de responsabilidade pelo presidente envolve dois critérios: o político e o jurídico. Sob o aspecto jurídico, é possível dizer que houve crime. No aspecto político, dependerá dos rumos dos pedidos de impeachment na Câmara.

O presidente corre o risco de sofrer o impeachment?
O presidente tem apresentado dificuldade em dialogar com o Parlamento, situação que pode levar
à admissibilidade dos pleitos de impeachment.

Como o senhor vê o posicionamento do presidente no combate à Covid?
Sofrível! O momento exige diálogo institucional e menos crises. Está faltando inteligência emocional ao presidente da República.