DESEMPREGO Adriana está preocupada com o fim do auxílio emergencial e nenhuma expectativa de trabalho (Crédito:Divulgação)

A fome tem pressa e retomar a pauta do auxílio emergencial se torna urgente. O benefício foi aprovado por iniciativa do legislativo no início da pandemia da Covid-19 e tinha muita resistência do presidente Bolsonaro e do seu ministro da Economia, Paulo Guedes. No entanto, trouxe um aumento de popularidade que encheu os olhos do presidente. Foram investidos R$ 260 bilhões e o auxílio chegou a até 67,8 milhões de pessoas, com parcelas de R$ 300, R$ 600 e R$ 1.200, conforme dados do Ministério da Cidadania. Em dezembro, o benefício foi cortado. O governo imaginou que neste início de ano a pandemia já teria terminado. Mas a Covid voltou a assombrar os brasileiros. Apesar da vacinação ter começado, as restrições, especialmente, no comércio e prestação de serviços ainda freiam a retomada econômica.

Com 14 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados, o auxílio emergencial é fundamental. O cientista político Márcio Coimbra lembra que essas 20 milhões de pessoas estão vivendo em extrema vulnerabilidade e precisam da volta do benefício para se alimentar. Coimbra pensa que a perspectiva do Congresso em reintroduzir essa pauta é muito grande.

“O Centrão vai passar, muito provavelmente, a liderar a pasta do Ministério da Cidadania e o protagonismo dessa ação virá da Câmara dos Deputados”, disse o cientista político.

“Hoje eu vou descarregar um caminhão, mas vou sem nenhuma janta, é pesado. Só quero que acabe essa doença, depois a gente vê o que faz” Edmilson Bueno, ajudante de caminhão (Crédito:Rodrigo Zaim)

A pressão pela volta do auxílio está evidente e os novos presidentes da Câmara e Senado fazem coro ao apelo popular. Na abertura solene do legislativo em 2021, que aconteceu na quarta-feira, 3, o deputado Arthur Lira (PP-AL) aproveitou a presença do presidente Bolsonaro para defender o benefício. “O auxílio emergencial garantiu a sobrevivência de milhares de famílias e deu fôlego à nossa economia”. Na mesma sessão, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) disse que está trabalhando junto ao governo para compatibilizar novo auxílio governamental aos mais carentes. “Isso é absolutamente necessário neste momento”. Bolsonaro não se comprometeu com a adoção da medida.

Há um jogo político no tratamento do assunto, segundo o economista Vladimir Maciel. Ele diz que as finanças públicas estão no pior momento desde os anos de 1980. “Há um déficit primário perto da casa de R$ 1 trilhão.
A gente teve uma recessão que foi uma das piores da história”, afirmou o economista. Maciel diz que o ministro da Economia, Paulo Guedes, brinca com a vida das pessoas que vivem na miséria. Ele entende que a estratégia deveria ser uma negociação com o Congresso para a volta do auxílio emergencial, mesmo que haja alguma contrapartida fiscal, como o retorno da CPMF. O economista acredita que a eleição dos novos presidentes do Senado e da Câmara pode contribuir para a discussão do assunto, já que os parlamentares precisam dar uma satisfação às suas bases eleitorais. Sem poder algum de barganha, a desempregada Adriana Ferreira de Jesus padece com os R$ 300 do programa Bolsa Família que sustentam ela, três filhos e o marido. Adriana mora em Eliseu Martins, cidade a 500 quilômetros da capital Teresina no estado do Piauí. A cidade tem poucas oportunidades de trabalho e com a pandemia ficou ainda mais difícil. “O auxílio já está fazendo muita falta”, disse Adriana.

Insensibilidade

Paulo Guedes parece não se sensibilizar com tanta miséria, segundo o economista Vladimir Maciel, para quem o ministro demonstra inexperiência no setor público e arrogância aliada a uma evidente falta de habilidade política. “Ele é insensível. Há um aumento de pobreza visível. As ruas e os dados mostram isso”, disse o economista.

O ajudante de caminhão Edmilson Bueno é o melhor exemplo dessa realidade. Ele ficou desempregado em meio a pandemia e não conseguiu mais pagar o aluguel em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Foi morar nas ruas da capital paulista. À noite ele descarrega caminhões por R$ 40. “Era R$ 80 por dia, mas como tem muita gente procurando trabalho, o valor foi caindo”, explica Bueno. Ele recebeu seis parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial, mas hoje vive de serviços esporádicos para poder comprar comida. “Hoje eu vou descarregar um caminhão, mas vou sem nenhuma janta, é pesado”, lamenta o ajudante de caminhão. O auxílio emergencial não é uma solução permanente, mas é a melhor alternativa para minimizar os problemas sociais, enquanto a vacinação em massa contra o coronavírus não for ampliada.