A festa é dela

A festa é dela

Gisele Vitória e Simone Blanes Fotos Paulo Vainer Edição de moda Luis Fiod/Ag. MINT / Beleza Henrique Martins/ CAPA MGT A carona da bicicleta de um amigo de adolescência era a sua ?limousine? aos 14 anos. Muito antes de se tornar o misto de fenômeno pop e musa sexy-fashion que o Brasil conhece, Sabrina cumpria o que lhe parecia uma infinita agenda de festas nos fins de semana em Penápolis (SP). Na terra natal paulista que lhe presenteou com o irresistível sotaque caipira, a veia de animadora de plateias, identificada pela mãe, Kika, já lhe atribuía tarefas de entertainer da família. ?Além de ir às minhas festas, minha mãe pedia que eu fosse às festas do meu irmão Karin, que era tímido. E também passava nas da minha irmã Karina?, ela descreve, interrompida por suas próprias gargalhadas. ?Só indo de bicicleta mesmo para dar conta de tanto evento.? Sabrina sempre fez a festa. Ainda faz, onde quer que esteja. Sob o sol ou quando o tempo fecha. No auditório do programa Pânico ou no último desfile de Marc Jacobs para Louis Vuitton, em Paris. É seu dom. Billy Wilder, que eternizou no cinema a cult Sabrina de Audrey Hepburn em sua comédia romântica lançada em 1954, morreria de inveja da nossa Sabrina Sato Rahal. Melhor dizendo, Real, como indica seu Twitter e como seu sobrenome sugere nas entrelinhas quando o lemos rapidamente. Sabrina traduz a genialidade do que é realidade alegre. É combustão espontânea que encanta homens e mulheres. Nenhum cineasta, nem Wilder, seria capaz de inventá-la. Como no clássico do cinema (a filha do chofer de um milionário que volta fashionista de Paris), ela também teve o seu momento de transformação. ?Na escola diziam que eu não era mamífero porque não tinha glândulas mamárias?, conta. Ela se lembra de um verão em Ubatuba (SP) quando meninos pseudo-espertos decidiram dar notas para as meninas na praia. ?Minha irmã Karina ganhava dez, a prima Aline, oito. E eu?, ela indagava. ?Ah, você é café com leite!?, diziam.? A desculpa era que ela era magricela demais para ganhar nota. Mas a revanche veio rápido, nas férias do ano seguinte, quando a moça ?botou corpo? e virou a sensação do lugar. A gente imagina a cara dessa turma hoje, quando a musa japonesa surge por aí com sua plástica de tirar o fôlego. Seu primeiro beijo aconteceu lá por aquela época. Sabrina deixou Penápolis aos 16 anos, para terminar o ensino médio em São Paulo. Morava com uma tia inseparável.?Desde cedo eu queria trabalhar na televisão?, conta. A festa é dela PRIMEIRA VEZ AOS 20 E, relembrando a vida, ela surpreende: ?Só transei aos 20 anos?. Tarde assim? Nessa época, ela tinha um namoradinho de Penápolis, Felipe. ?Acho que era tão focada no meu sonho profissional que deixei isso para depois.? Aos 17, passou no vestibular para dança na UFRJ e mudou-se para o Rio. Trabalhou como bailarina no Domingão do Faustão. ?Faustão é querido, muito educado. Eu adorava quando a gente podia subir até o camarim dele para pegar comidinhas.? Mas a vida longe da família era difícil, e Sabrina não vislumbrava perspectivas. Voltou para São Paulo. Ela se desmancha em risadas quando lembra do empenho do pai, o psicólogo e ex-vereador Omar Rahal, em filmá-la como candidata ao Big Brother Brasil. ?Fui para Penápolis e falei para o meu pai: Cadê aquela câmera que você me gravava quando era criança? Aí fomos para a chácara, minha mãe fez uns arranjos com melancias e meu pai filmou”, contou. Ficaram um dia inteiro fazendo isso. O pai a dirigia. A câmera era velha e o áudio não funcionou, mas as imagens eram bonitas: Sabrina brincando com os gatos, com os porcos, no sítio. “Quando falei para a Karina, ela disse: ?Você está louca? Você estudou, quem participa do BBB está desesperado?.? Sabrina discordou da irmã mais velha e avisou que mandaria a fita. Karina retrucou: ?Mas se mandar essa fita, vai ser chamada!?. Tiro e queda. Um mês depois, veio a ligação para o teste. ?Não me arrependo. Para mim foi incrível. Sou agradecida a todos ali.? NO DIVÃ As histórias escorrem da ponta da língua, enquanto ela faz o pé, a mão, a escova, o make-up e digita mensagens para o namorado, João Vicente de Castro. ?Do que eu estava falando mesmo?? Nesse cenário, ao som do secador de cabelo e de um séquito que lhe acompanha, ela nos diz que começou a fazer análise para driblar o déficit de atenção. Sem saber que é dona de uma capacidade heróica de se concentrar na vida-louca-vida de gravações, campanhas e entrevistas, ela aperta os olhos e solta a gargalhada inconfundível. E insiste: ?Resolvi procurar a ajuda da psicanalista Lia. Eu sou hiperativa e dispersa?, conta. Na outra ponta de um mergulho na alma a que ela se impõe, está o novo romance. O amor descoberto na poltrona de um voo da ponte aérea Rio-São Paulo a tem ajudado a dissolver antigos nós. ?Aprendi com o João a discutir a relação (a tal da DR)?, ela diz, como quem anuncia uma notícia impensável. ?Nunca gostei disso… Sempre guardei as coisas. Estou aprendendo com ele a falar do que me incomoda.? Ou seja, no primeiro ?deixa pra lá? antes corriqueiro, a réplica é carinhosa e imediata: “Não, vamos conversar agora?. Filho do escritor Tarso de Castro, publicitário e sócio do programa Porta dos Fundos, João Vicente já fez Sabrina chorar. Num texto recente, falou do encontro de vidas que tiveram a bordo. ?Decolei com uma amiga de longa data e aterrissei com a mulher da minha vida?, escreveu ele para a revista Harper’s Bazaar. O reencontro sugere mais. Soou como um date with destiny. Explica-se: momentos antes de embarcarem no avião, sem saber que se dirigiam para a mesma aeronave, eles trocavam mensagens via WhatsApp! Os céticos diriam que ele planejou, investigou quando ela pegaria o avião e descobriu que o lugar dela era na primeira fila. Os românticos concordariam com madame Chanel. Sabrina estava very pretty para seu encontro com o destino. Chamamos seu amigo e assessor Ronny Macedo, que estava com ela, para confirmar o que nos pareceu inacreditável. ?Anos atrás, éramos da mesma turma, mas apenas amigos, embora João não visse exatamente dessa forma.? Sabrina estava sozinha havia dez meses. Ela curtia a solteirice, e começou a se divertir com as persuasivas mensagens do amigo. Naquele dia, ela embarcava para São Paulo, mas não disse a João, que se empenhava na paquera pelo celular. Ele estava no fundo do avião e decidiu pular para a poltrona da frente, que estava vazia. ?Você está no meu lugarrrr?, surpreendeu-se ela, minutos depois de desligar o aparelho. O primeiro beijo não foi a bordo. Mas eles deixaram o aeroporto de Congonhas no mesmo carro. ?Depois daquele dia, a gente não se largou mais.? A festa é dela Aquela pergunta nonsense aparece: ?E vocês pensam em se casar?? ?Sim!? ?E filhos?? ?Claro, o João ama criança e eu também. Mas por enquanto vou brincar com meu sobrinho que vai nascer. Tenho muito tempo ainda.? Logo caímos na real. Que absurdo o nosso… Fazer esse questionamento para alguém que está namorando há apenas seis meses… Mas logo Sabrina nos desarma e se entrega: ?Que nada! Minha irmã namorou por oito anos, mas casou e engravidou do namorado que conheceu no início do ano.? O riso veio a galope quando retrucamos se ela seguiria o mesmo caminho. Ela desconversa. Ainda prefere ficar na teoria. Ou talvez buscar respostas nos livros. ?Estou lendo A Mulher de Trinta Anos de Honoré de Balzac (1831), que ainda não consegui terminar.? Também tem em seu banheiro (onde ela adora ler!) Pai Solteiro e Outras Histórias (1990), crônicas do Tarso de Castro sobre o próprio João. Talvez ainda não seja mesmo o momento de responder a essas perguntas. Por enquanto, o melhor é Sabrina voltar para a sua eterna festa.