São múltiplos os fatores que impõem a sofrível realidade de escassez de medicamentos à população brasileira. No momento, há dificuldade de se encontrar nos balcões de farmácias e drogarias produtos de uso corrente como antibióticos, analgésicos e alguns xaropes. A constatação do problema foi feita pelos próprios farmacêuticos que responderam a pesquisas organizadas pelos conselhos federais e regionais de farmácia, além de outras organizações ligadas ao tema, como o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo (SindHosp). No levantamento realizado pelo Conselho Regional de Farmácia paulista, 1.152 profissionais de todo o estado responderam de forma unânime que estão sofrendo com o desabastecimento nos estabelecimentos comerciais em que trabalham.

“O País é dependente do mercado externo e importa 95% das matérias-primas e insumos que utiliza” Luciana Canetto, vice-presidente do CRF (Crédito:Divulgação)

Não é um problema de fácil solução, pois envolve diversos setores antes de chegar ao consumidor final. A indústria farmacêutica diz que está tendo dificuldades para adquirir as matérias-primas e insumos, traduza-se: Ingrediente Farmacêutico Ativo, (IFA), embalagens e frascos. Isso ocorre devido às crises provocadas pela pandemia, que ainda compromete o ritmo de trabalho, especialmente, na China, que optou pela política de Covid zero, e, ainda, por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. A circunstância de duas tragédias ocorrendo conjuntamente induzem, ainda, a subida de preços desses produtos, o que causa a retração das compras por parte dos fabricantes. “Algo como 95% das matérias-primas e insumos são importados”, afirma Luciana Canetto, vice-presidente do CRF. Ela explica que se a situação permanecer desse jeito pode-se chegar a uma conjuntura drástica. “Por enquanto, não vemos saída no curto prazo”.

Alguns consumidores já tiveram dificuldade de efetuar o tratamento prescrito. Fátima Rosa de 52 anos, agente administrativa, recentemente esteve doente e precisou comprar um antibiótico, a amoxicilina, mas não o encontrou. “Estive em cinco drogarias e também na farmácia pública, tudo em vão”, diz. Após muito caminhar, ela encontrou apenas uma caixa com a metade da quantidade necessária. A carência medicamentos atinge os hospitais. O sindicato fez uma pesquisa na qual até o soro fisiológico e a dipirona apareceram entre os itens com os estoques em baixa. E, preços altos e dificuldade de importação são as causas apontadas.