O governo de Jair Bolsonaro só tem só duas ideias na cabeça na área de educação: uma é o ensino cívico-militar e outra é o homeschooling. Chamado em português de ensino domiciliar essa é a modalidade em que os próprios pais se encarregam de educar os filhos. Fosse apenas uma excepcionalidade não haveria problema. Mas a forma como o governo se empenha em transformar um projeto de alcance limitado em uma solução abrangente para o setor causa estupor. Na prática, o que se tenta é converter uma excentricidade em política pública, de maneira abrupta e sorrateira. O objetivo do governo, que acaba de aprovar um projeto na Câmara para regularizar o ensino doméstico, é afastar o jovem brasileiro do ambiente escolar e da formação democrática e transferir a responsabilidade pela educação para as famílias e para as igrejas.

A maior parte dos grupos que promovem o homeschooling é cristã e conservadora e se incomoda com algumas pautas do ensino público como a educação sexual. E empresas de cunho religioso espalhadas pelo Brasil já começam a vender kits para que as famílias interessadas nessa modalidade de ensino a adotem com seus filhos. É o primeiro passo para a criação de escolas informais e de uma estrutura de educação paralela que não seja afetada pelo debate público e que promova o negacionismo, por exemplo. Caso se desenvolva, o homeschooling tende a se tornar uma espécie de sabotagem ao ensino laico.

O homeschooling atende hoje cerca 15 mil famílias em todo o País. Em termos comparativos, a educação básica brasileira tem, no total, 26,5 milhões de alunos. O ensino domiciliar é uma gota no oceano da educação. As pessoas que realmente precisam adotar a modalidade, por conta do extremo isolamento ou de alguma situação específica, não deveriam ser impedidas. Mas pensar que ele pode ser uma solução é uma tolice. No momento em que a educação precisa de idéias capazes de solucionar o impasse criado pela pandemia o governo oferece apenas uma armadilha ideológica. A experiência de aprender em casa, com o ensino remoto, teve um efeito paliativo, mas não compensou as vantagens do ensino presencial. Mais uma vez ficou claro que as escolas são fundamentais. Só que Bolsonaro não gosta delas.