Correm tempos de neoliberalismo selvagem no paraíso tecnológico da Coreia do Sul. A família Kim pertence à massa excluída. Mora em um porão de prédio na periferia mais pobre de Seul. Seus quatro membros — o pai Kim Ki-taek, a mãe Kim Chung-sook e filhos, Kim Ki-Jung e o irmão Cho Kim Ki-woo — fazem bico montando caixas de pizza. Logo no começo do filme “Parasita”, dirigido por Bong Joon-Ho, eles se desesperam quando some o sinal de wi-fi. Os jovens captam um sinal
do banheiro do porão. No almoço, o pai pronuncia uma mensagem otimista à maneira oriental: “Vamos agradecer
ao wi-fi abundante!” A virada se dá quando Cho é indicado por um colega para dar aula à filha da abastada família Park, também com quatro integrantes. Aos poucos, a família Kim toma a casa, substituindo os funcionários. Para ocupar as funções de terapeuta, motorista e governanta, filha, pai e mãe aprendem técnicas e dicas pelo YouTube. Não demora conquistarem os patrões. É tanto uma fábula como uma sátira do mundo hipertecnológico. O filme ganhou a Palma de Ouro de Cannes de 2019.

Os Feitos de Bong Joon-Ho

Kevin Winter/Getty Images for HFA/AFP

Desde o início da carreira, o diretor Bong Joon-Ho, 50, escreveu roteiros e dirigiu filmes. Antes de se tornar o primeiro coreano a ter conquistado Cannes, tornou-se conhecido pela distopia futurista “Expresso do amanhã” (2019) e pela ficção social “Okja” (2017). Define seus filmes como críticas sociais e políticas. “Em ‘Parasita’, tentei mostrar os conflitos inevitáveis entre duas classes que se enfrentam na atual sociedade polarizada”, diz.