Era uma vez, num reino muito distante, um rei. Não era um rei comum, porque esse rei andava com um papagaio no ombro.

Um papagaio que vivia no ombro do dono desde muito antes dele se tornar rei.

Porque esse rei não herdou seu cargo, não era da família real e nem mesmo frequentava a corte.

É que o povo estava cansado do rei antigo então decidiu que era hora de colocar um novo no lugar.

E queriam um novo rei que não fosse da família real e nem da corte, porque senão nada mudaria.

Então escolheram para rei um homem comum, simplório até, que todos conheciam.

Escolheram esse homem não por seus talentos ou por sua inteligência, mas exatamente por causa de seu papagaio.

É que a dupla era conhecida nos quatro cantos do reino.

Como uma espécie de menestrel, o homem caminhava com seu papagaio no ombro pelas ruas, nas festas, nos enforcamentos, nas estalagens, sempre contando histórias e fazendo o povo rir.

O papagaio cochichava em seu ouvido e o homem repetia sem pensar o que o bicho dizia para divertimento de todos. O papagaio parecia gente. Falava grosserias, contava piadas sujas, fofocava sobre a corte e xingava Deus e o mundo, cochichando no ouvido para seu dono repetir.

Que escolha melhor para rei do que alguém que faz o reino feliz, não é mesmo?

Então, quando o povo resolveu escolher um novo rei, o antigo não teve a menor chance. Nem foi preciso uma batalha.

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O povo carregou o novo rei para o castelo e pronto: rei velho preso, rei novo entronado. E o papagaio junto.

Ninguém se importava com o papagaio no ombro do rei e com as bobagens que ele falava, afinal, um rei com um papagaio era uma boa notícia para um reino tão cheio de problemas.

O sujeito, coitado, não fazia à menor ideia de como ser rei.

Então continuou fazendo o que sempre tinha feito na vida: repetir o que o papagaio dizia.

Mas o poder muda as pessoas e os papagaios.

E o povo nem percebeu que agora era regido por um papagaio.

Com o tempo o papagaio foi perdendo a graça, tendo que tomar decisões importantes.

E como papagaios não entendem nada de reinado, o reino entrou numa profunda crise.

O papagaio parou de contar piadas, deixou de lado seu bom humor.

Tinha virado um papagaio sério, rabugento, agressivo até.

Aos poucos os nobres perceberam que quem mandava no reino era o papagaio e não o seu dono.

Então fizeram o que nobres sempre fazem: começaram a adular o papagaio.

Até gaiola de ouro ele ganhou, mas não usou porque o rei não o largava por nada.

Toda vez que alguém fazia uma consulta ao rei, o papagaio se apressava em responder, cochichando a resposta no ouvido do monarca. E tudo que o papagaio dizia, virava lei.

Conforme a situação do reino se agravava, alguns começaram a dizer que o papagaio falava demais e que aquilo ainda ia dar problemas.

Por exemplo, um dia o papagaio decidiu que ia subir os impostos.

O tesoureiro foi pedir ao papagaio, digo, ao rei para que reconsiderasse, mas não teve jeito.

Os impostos subiram e o povo não gostou nada, nada.

Quando os nobres discordavam do rei o papagaio não vacilava:

– Guardas! Cortem a cabeça desses revoltosos! – cochichava o bicho para o rei gritar.

Com medo do rei, o povo decidiu que aquilo precisava mudar.

Numa reunião de opositores, alguém disse:

– Precisamos dar um basta! Vamos derrubar esse canalha!

– Mas quem vai ficar no lugar do rei?

Planejaram um golpe.

Na calada da noite, invadiram o quarto do rei e cortaram o pescoço do papagaio.

Sem o papagaio, o rei não sabia mais o que dizer, então calou-se para sempre, para alegria dos súditos.

E o reino viveu feliz para sempre.

Moral da história: é melhor um rei calado do que um que fala papagaiadas.