No início o TikTok parecia só mais uma rede social, com pequenos filmes engraçados. Aos poucos, provou ser um novo fenômeno. Recentemente, surfando com o isolamento social, a plataforma virou uma febre entre jovens e adultos. Já foram registrados mais de dois bilhões de downloads do aplicativo no mundo inteiro, só perdendo para o programa de mensagens WhatsApp. No Brasil, o aplicativo chinês também explodiu e segue viralizando em todas as faixas etárias. Na quarentena, a rede aumentou aproximadamente 35% entre os adolescentes e jovens, 24% entre adultos de 35 a 55 anos e 14% entre pessoas com mais de 55 anos, conforme levantamento da Kantar Ibope. O crescimento não espanta os especialistas. Afinal, o brasileiro passa bastante tempo conectado e gosta de interações rápidas e divertidas. O que se ampliou ainda mais em tempos de pandemia. E a empresa comemora o tamanho do engajamento obtido junto aos brasileiros, que todos os dias ampliam a quantidade de vídeos com uma criatividade que já começa a definir um perfil regional na rede.

Há várias razões apontadas por especialistas para o sucesso. A facilidade para se fazer vídeos curtos, de 15 a 60 segundos, com música, dublagem, dança e esquetes de humor tem atraído adeptos, inclusive artistas e influenciadores. A possibilidade de se compartilhar esses vídeos em outras redes, como WhatsApp e Facebook, também ajudou a expandir ainda mais o número de usuários. Outro segredo é o algoritmo desenvolvido pelos seus criadores. Ao abrir o TikTok, o usuário é apresentado a uma infinidade de vídeos, podendo facilmente selecionar as imagens a partir de seus interesses. Cada internauta acaba tendo acesso a um cardápio atraente e customizado, que se molda ao seu gosto e reproduz novas tendências. Entre os mais jovens, especialmente, virou uma onda — só nos EUA, são mais de 100 milhões de usuários.

Preço do sucesso

O sucesso paradoxalmente virou um fardo para o aplicativo. Nas últimas semanas, ele tornou-se um ponto de disputa entre os EUA e a China. A crise entre as duas maiores potências mundiais já vem sendo chamada de “Guerra Fria 2.0”, numa discussão que começou no ano passado com o 5G. Donald Trump alega que as tecnologias chinesas podem levar informações sensíveis para a China, colocando em jogo a soberania nacional. Por isso, em agosto, assinou um decreto obrigando a chinesa ByteDance, dona da rede social, a vender suas atividades nos EUA em até 90 dias. Faltando pouco para acabar o prazo dado por Trump, surgem interessados na compra da plataforma, avaliada em até US$ 30 bilhões. No páreo estão pesos pesados como Microsoft, Oracle e Walmart. O governo chinês tenta melar o negócio, impondo novas regras que proíbem exportação de tecnologias que incluam inteligência artificial — caso do TikTok. Em outras palavras, quem comprar a plataforma vai precisar do aval do Partido Comunista Chinês. A dianteira chinesa na área tecnológica assusta os americanos, explica Mario Roberto Nogueira, sócio do NHM Advogados, escritório que atende muitas companhias chinesas no Brasil. “Eles colocaram em xeque a hegemonia dos EUA em tecnologia”, diz. A questão deve se arrastar até a definição das eleições nos EUA. Se Trump permanecer, o embate terá novos desdobramentos. E o Brasil fica no meio, como espectador. “O alinhamento do governo Bolsonaro com os EUA pode complicar as coisas, uma vez que os chineses são nossos grandes parceiros comerciais”, diz Nogueira.


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