Joel Berning

— Joel Berning, capelão

Qual a relação entre a espiritualidade e a saúde?

Uma das definições mais aceitas sobre espiritualidade afirma que ela é “uma dimensão dinâmica da vida humana relativa às formas pelas quais indivíduos e comunidades experimentam, expressam e procuram significado, propósito e transcendência, e a forma pela qual eles se conectam com o momento, consigo próprios, com a natureza e com o significado de sagrado”. Nossa experiência com a doença e a internação influencia essa dimensão da vida e vice-versa: ela impacta nossas experiências com as doenças e as hospitalizações.

Como isso é usado para ajudar no tratamento?

Encarar uma doença grave afeta nossa relação com Deus, e nossa relação com Deus afeta a maneira pela qual enfrentamos essas enfermidades. O suporte espiritual auxilia ao trazer significado, propósito e transcendência à situações de sofrimento. Perder isso diante de doenças graves é a pior parte de uma internação e às vezes precisamos de ajuda para novamente nos conectar conosco, com os outros, com a natureza e com o sagrado. Isso pode acontecer com adeptos de religiões, ateus, todos. Um capelão habilitado pode ajudar qualquer tipo de pessoa a se ligar novamente à sua cultura, tradição e suas relações espirituais respeitando a forma como lidam com elas. Nossos estudos mostram que pacientes e familiares gostam desse tipo de suporte.

De que maneira o sr. faz o contato com os pacientes?

Tento me aproximar com compaixão, sensibilidade e respeito. Apresento-me pelo meu nome e digo que sou um capelão. Isso às vezes assusta as pessoas e tento logo adicionar o que faço.

Por que?

Digo rapidamente que não tenho más notícias. Muitos pensam que a chegada de um capelão significa que o paciente está perto da morte. Também ressalto que não estou lá para mudar qualquer coisa que seja em relação ao que ele acredita.

E como é o trabalho?

Se o paciente não pode se comunicar, apresento o cartaz que fizemos e pergunto se ele quer usá-lo. Normalmente começo com a seção destinada a apontar suas emoções. Quero ter uma ideia de como ele está se sentindo em relação a sua condição. Depois, peço que aponte, numa escala de zero a dez, qual o nível de sua dor espiritual. Em seguida, peço que aponte qual dos ícones melhor representa o que ele acredita em termos de religião. Finalmente, ele é estimulado a indicar se tem alguma demanda espiritual e de que forma deseja que ela seja atendida.

Quais são suas principais observações?

Às vezes, quando o paciente pode falar, as conversas são muito profundas e o impacto na ansiedade e depressão, intenso. Surpreendo-me quando a consulta é relativamente simples e as intervenções básicas ou inexistentes e, mesmo assim, percebo que os poucos minutos juntos são suficientes para baixar o nível de estresse e ansiedade. Acho que isso acontece simplesmente porque os pacientes conseguiram transmitir um pouco do que estão sentindo.

Qual o principal sentimento relatado?

Não há apenas um. O que mais surge é medo, tristeza e raiva.

Matthew Baldwin

— Matthew Baldwin, médico

Por que você decidiu pesquisar o tema?

Pacientes mantidos sob ventilação mecânica passam por um estresse físico e emocional muito grande porque são impedidos de falar. Quando comecei a observar o capelão Berning usando o cartaz que ele criou com um paciente, percebi como o paciente estava envolvido e parecia menos ansioso. Nesse momento entendi que precisávamos estudar mais aquilo.

Quais as principais conclusões a que chegou?

O nível de ansiedade dos pacientes imediatamente após a consulta com o capelão caiu mais de 30%. Depois, fizemos entrevistas com pacientes que passaram por ela e haviam tido alta. Cerca de 80% nos contaram que se sentiram mais capacitados para lidar com a internação. Isso indica que o cuidado com a espiritualidade ajuda os pacientes a atravessar esse momento, em que estão em condições críticas, e também depois de passarem por elas.

Como seus colegas médicos encararam essa abordagem?

Eles, e também os enfermeiros, ficaram entusiasmados. Hoje nossa equipe de UTI informa regularmente o capelão da presença de pacientes sob ventilação mecânica que estão conscientes e alertas e que podem se beneficiar com a consulta. Isto representa uma mudança de paradigma na nossa UTI. Mais do que ser um profissional para acompanhar famílias em luto, o capelão agora trabalha diretamente com os pacientes, a maioria deles com boas chances de sobrevivência. De certa forma, o papel do capelão mudou: deixou de ser um consultor na hora da morte para se tornar um consultor para a vida.