“Gato porque é lindo”, rebate o pai Douglas, quando ouve insinuações de torcedores sobre o filho ter mais do que os 15 anos declarados. Endrick Felipe Moreira de Sousa, nascido em 21 de julho de 2006, em Brasília-DF, segue como atacante das categorias de base até completar 16, a “maioridade” para assinar contrato como profissional no futebol brasileiro. Por enquanto, no Palmeiras – que o admitiu em seus quadros ainda em 2017, para jogar no sub-11, depois de um vídeo mostrando proezas do menino-atacante chegar a seus diretores. A opção do pai pelo clube paulista foi pelo emprego que conseguiu como faxineiro, para ficar perto do filho.

É exaltado o feito do garoto participar de três campeonatos paulistas em um ano, por três categorias, chegando ao título do sub-15 e do sub-20, além do vice-campeonato no sub-17. Fez 167 gols em 170 jogos, contabilizam os palmeirenses. Brilhou na vitrine da Copa São Paulo, a Copinha, vencida pelo Palmeiras por 4 a 0 sobre o Santos na final de terça-feira, 25, dia da cidade de São Paulo, contribuindo com um dos gols da goleada.

Endrick não será levado ao Mundial pelo técnico Abel Ferreira, “apesar da pressão do empresário Wagner Ribeiro”, o que provoca discussões exaltadas daqueles que são pró e dos que são contra. Com 1,73m, forte e habilidoso, é chamado na Europa de “Canhoto de Ouro” e especula-se sobre sua venda a clubes do exterior. A lesão que teve no joelho (ele não fala em qual dos dois) aos 14 anos já resultou em cirurgia. Endrick exalta o apoio da família, mais uma que tem no filho a esperança de uma vida melhor. Ok.

É um fora-de-série, claro, como tantos que garantem a sobrevivência do esporte brasileiro, onde falta de tudo, quanto a organização e estrutura, e onde 55% dos jogadores de futebol não ganham mais que R$ 1.100 (sem somar direitos de imagem), 33% batem nos R$ 5 mil e apenas 12% passam desse valor.

Mas, gato ou não gato, pronto ou não para ser vendido, perto ou não de entrar em uma vida milionária, a torcida deveria ser pela honestidade da palavra de especialistas, de médico a fisiologista, de preparador físico a psicólogo, quanto a confrontos físicos com jogadores formados, adultos, ainda alimentados pela pressão mental de brigar por títulos. Só que prevalece a euforia das ofertas e das premiações estratosféricas sobre o bom senso. Ainda que esteja com apenas 15 anos, Endrick vai precisar aprender a cuidar de si mesmo.