O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, partiu para o tudo ou nada às vésperas das eleições parlamentares realizadas no país na semana passada. Cacifado com o bom desempenho que teve no comando da luta contra a pandemia, que atacou os portugueses em sucessivas ondas que se mostravam intermináveis, ele decidiu correr o risco de perder o mandato que traz consigo desde 2015 e ser tirado da liderança do Partido Socialista ao pedir à população que lhe desse nas urnas a maioria absoluta na representação legislativa. Dessa forma poderia seguir administrando a nação, daqui para frente, mas sem a ranheta oposição dos partidos menores de esquerda que não deram trégua nem nos mais difíceis períodos de enfrentamento da Covid. Era chegado o momento, então, de se colocar fim à antiga frente, denominada Geringonça, que reunia o PS ao Partido Comunista e ao Bloco de Esquerda. Costa saiu-se soberano na aposta e sua legenda conquistou a maioria absoluta: cento e dezessete cadeiras do total de duzentos e trinta assentos na Assembleia da República, isso até a terça-feira 1. Desde 1976, dois anos após a Revolução dos Cravos ter banido a ditadura salazarista, a maioria absoluta no Parlamento se formara somente cinco vezes: quatro com o Partido Social Democrata, adversário político de Costa, e uma com o próprio PS, que colocou no cargo José Sócrates. Agora, Costa tem pela frente uma dura missão, mas que se tornou exequível com a esmagadora vitória conquistada: gerir os robustos recursos que a União Europeia lhe destinou para a retomada da estabilidade social e econômica arruinadas pela pandemia – que não o poupou nesses dias de glória: na terça-feira ele testou positivo para Covid 19.

A extrema direita cresce

As eleições legislativas retiraram de Portugal, dessa vez, a condição de ser uma das raras nações europeias em que a extrema direita ainda não avançara politicamente. Agora, a legenda direitista Chega conseguiu a conquista de doze assentos na Assembleia da República – até então possuía um único parlamentar, André Ventura, presidente da sigla. O Chega dá abrigo a neonazistas, defende uma agressiva política de preconceitos contra imigrantes e advoga abertamente a favor da pena de morte.

O triunfo de 2005

EX-PREMIÊ José Sócrates: absolvido da acusação de corrupção (Crédito:PEDRO FIUZA)

A última vez que o Partido Socialista teve maioria absoluta na Assembleia da República foi em 2005, com o então primeiro-ministro José Sócrates. Mais tarde acusado de corrupção, ele foi absolvido.

COMPORTAMENTO
Acorda e a corda para vacinar

IMPROVISO Esposa luta contra a Covid a seu jeito: vacina no marido amarrado (Crédito:Divulgação)

Viralizou na semana passada nas redes sociais imagens de um marido que, recusando-se a se vacinar contra a Covid, foi levado ao posto de saúde pela própria esposa. Como? Amarrado com uma longa corda, no tronco e nos braços, e por ela puxado. No vídeo que circulou exaustivamente na internet há comentários a respeito da cena. “O homem veio amarrado, minha gente, para tomar a vacina”, diz uma mulher. O posto de saúde em questão, segundo internautas, localiza-se em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió. A publicação do Tik Tok recebeu mais de cento e setenta e quatro mil curtidas e dois milhões e seiscentas mil visualizações. Mais comentários: “ela está apenas garantindo o seu direito de não pegar Covid”. Outro, atacando veladamente o antivacina Jair Bolsonaro: “essa mulher para presidente!”. Mais um: “o marido não faz nada, vive dormindo”.

SOCIEDADE
O massacre do preto e as “princesas” de Damares

Tércio Teixeira
TRISTEZA Lotsove Lolo com o retrato do filho Moïse e Damares no vídeo sobre “princesas”: dor sem amparo (Crédito:Divulgação)

O congolês Moïse Kabagambe escolheu viver no Rio de Janeiro fugindo da violência em seu país. Foi “cardapear” (oferecer comida na praia) para os quiosques Biruta e Juninho, na Barra da Tijuca. Segundo testemunhas, ele trabalhou, não recebeu e foi cobrar o patrão, o cabo PM Alauir Mattos de Faria. O cabo teria chamado três amigos, e eles mataram Moïse a pauladas. Alauir ganha R$ 4 mil por mês, um quiosque custa R$ 400 mil. Os três agressores estão presos e o depoimento de Alauir estava previsto para a quinta-feira 3 (o crime ocorreu em 24 de janeiro). Esse não é o Brasil da maioria dos brasileiros, que clama por justiça, mas é, sim, o Brasil do governo federal, de onde emana o desprezo pela vida. Enquanto o caso do preto torturado crescia, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, gravava um vídeo idiota criticando “governos de esquerda que queriam o desprincesamento” das nossas adolescentes e elogiando Jair Bolsonaro, o “lobo mau dos comunistas”. No Brasil de Damares, preto é trucidado e os acusados jogam a culpa na vítima mentindo que ela queria “beber de graça”.