As eleições legislativas na Alemanha e as municipais na Itália mostraram que o eleitorado votou nos partidos da centro-esquerda, ou seria mais apropriado dizer da esquerda moderada. O SPD, Partido Social-democrata da Alemanha, venceu as legislativas com 25,7% dos votos e seu líder, Olaf Scholz, trabalha com os Verdes e com os liberais para formar um novo governo.

Já na Itália, no começo de outubro, a esquerda liderada pelo Partido Democrático (PD) – herdeiro remoto do Partido Comunista Italiano (PCI) – ganhou no primeiro turno as prefeituras de Milão e Nápoles, segunda e terceira maiores cidades do país, e em outras como Bolonha. O PD disputará no segundo turno as prefeituras de Roma e Turim.

A coalizão de governo que Scholz tenta formar na Alemanha inclui os liberal-democráticos, de centro-direita. Como foi destacado por alguns analistas políticos, Scholz é pragmático: a política do SPD defende o aumento do salário mínimo para 14 euros por hora, mas não é este o ponto principal que os liberal-democráticos, que defendem as empresas, levarão ao centro das discussões para formar governo, e sim a velocidade da transição da economia alemã para as energias limpas. Nesta questão, os Verdes querem que a Alemanha acelere a transição para uma economia com fontes de energia limpa já em 2030.

Os liberal-democráticos apontam para 2035 ou 2040: a transição continuará – a Alemanha fechou cinco usinas nucleares na era Merkel – mas será mais lenta. Ninguém questiona mais a necessidade da transição ser feita, e sim a sua velocidade. Como na maioria dos debates políticos nas democracias evoluídas, o diálogo na Alemanha não exclui e é dinâmico. As negociações oficiais entre os três partidos começaram na quarta-feira desta semana.

Na Itália, o eleitorado rechaçou nas eleições municipais os partidos populistas: tanto a Liga, da extrema-direita, como o Movimento Cinco Estrelas (M5S), que defende um vago populismo de esquerda, perderam prefeituras e cadeiras nos conselhos municipais. O resultado italiano pode ser um ensaio para 2023, quando o país terá eleições legislativas que levarão à escolha do próximo primeiro-ministro. O PD, até lá, precisará ampliar as suas alianças com o centro.

Nos países nórdicos, como Noruega, Dinamarca e Suécia, a centro-esquerda manteve ou voltou ao poder nas eleições legislativas de 2021. A exceção foi a Islândia. É uma esquerda moderada, que frequentemente se alia ao centro para alcançar objetivos pragmáticos – aumentos salariais, redução de alguns impostos para contribuintes, novos serviços sociais.

Ou seja: é uma esquerda muito menos ideológica que suas antecessoras dos anos 1990, não populista e pragmática. As democracias europeias, mais maduras, começam a rechaçar o populismo tacanho que Boris Johnson e Donald Trump espalharam na década passada.