Quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, entrar na Casa Branca na próxima semana, seu governo terá que negociar rapidamente com a Rússia para salvar o importante tratado de desarmamento New Start.

O texto, que limita os arsenais nucleares das duas potências, expira em 5 de fevereiro, 16 dias após a posse de Biden. É o último grande acordo de redução de armas entre os dois antigos rivais da Guerra Fria.

O prazo se aproxima e tanto Moscou quanto Washington terão que chegar a um acordo e deixar de lado o lamentável estado de suas relações, muito degradadas por suas divergências na maioria dos assuntos internacionais e por acusações de interferência eleitoral, espionagem e ciberataques.

O desafio é fazer com que o tratado, muito importante para as duas potências, não desapareça, garantiu Elena Chernenko, do jornal russo Kommersant, que acompanhou de perto as negociações nos últimos meses.

“O tratado limita a possibilidade de um dos lados estar errado sobre as intenções ou planos do outro, como vimos isso acontecer várias vezes durante a Guerra Fria, o que levou a momentos muito perigosos”, explicou ela à AFP.

O acordo em questão também terá que definir as prioridades orçamentárias dos dois países, disse o jornalista Vladimir Frolov. Uma extensão potencial do New Start determinará, portanto, “se mais dinheiro será gasto do que o necessário em aparatos nucleares, em proporção [ao que foi gasto] na saúde”, disse ele à AFP.

O tratado New Start foi assinado em 2010 pelos então presidentes americanos Barack Obama e o russo Dmitri Medvedev, em um momento em que ambas as potências tentavam “reiniciar” suas relações.

O texto estabelece um máximo de 1.550 ogivas nucleares de cada lado, além de um máximo de lançadores e bombardeiros, número que, no entanto, seria suficiente para destruir a Terra várias vezes.

– Pressão e concessões –

Joe Biden tem muito a ganhar se conseguir um sucesso diplomático nas primeiras semanas de sua presidência, mas isso não impede que uma parte da classe dominante de seu país (o ‘establishment’) o pressione, ansioso para que Washington mantenha uma linha dura com Moscou.

No ano passado, legisladores dos EUA pediram que a Rússia fosse punida por uma onda de ataques cibernéticos perpetrados contra administrações e empresas americanas. Moscou já foi sancionada por Washington em diversas ocasiões por diversos motivos, aos quais se somam as expulsões mútuas de diplomatas.

Ainda assim, o futuro conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, indicou em janeiro que o presidente eleito havia pedido a sua equipe para começar a refletir sobre o prolongamento do New Start.

Em Moscou, o presidente Vladimir Putin propôs recentemente que o acordo fosse prorrogado por um ano sem pré-condições e pediu a seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que obtivesse uma resposta “coerente” dos Estados Unidos a essa proposta.

O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, que se destacou pelos tratados de desarmamento na Guerra Fria, disse esta semana que esperava que Biden aprovasse uma extensão do Novo Começo e exigiu que ambos os lados “negociassem reduções futuras”.

O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, que se destacou pelos tratados de desarmamento na Guerra Fria, disse esta semana que esperava que Biden aprovasse uma extensão do New Start e exigiu que ambos os lados “negociassem reduções futuras”.

Segundo Vladimir Frolov, a Rússia espera que o tratado seja prorrogado, pois isso permitiria modernizar suas capacidades nucleares em seu próprio ritmo, sem se precipitar em uma corrida armamentista.

As negociações para estender o tratado estão paralisadas há meses sob a presidência de Donald Trump, que exigiu que a China, outra grande potência nuclear, fosse incluída na limitação de armas. Mas Pequim mostrou pouco interesse em atender ao pedido.

Com a ascensão de Biden ao poder, essa condição deve desaparecer.

“Agora, há adultos na sala dos EUA e, apesar dos elementos de discórdia, este pode ser um dos pontos onde Moscou e Washington serão capazes de chegar a um acordo”, disse Chernenko.