SÉRIES “Bom dia, Verônica”: sucesso dos projetos nacionais estimula o investimento (Crédito:SUZANNA TIERIE/NETFLIX)

O avanço das plataformas de streaming no País foi capaz de algo até então impensável há menos de duas décadas: rompeu com o império da Globo no audiovisual. Nos anos dourados, a emissora chegou a ter centenas de artistas, produtores e autores sob contratos milionários que impediam esses profissionais de atuar em suas concorrentes. Os tempos mudaram: com a entrada em cena da Netflix, Amazon Prime e HBO Max os investimentos em filmes e séries originais produzidas no País abriu um leque enorme de opções para os profissionais do setor. Por um lado, a Globo permitiu a flexibilidade de suas relações com seus colaboradores; por outro, perdeu audiência e viu o rendimento cair. A situação agora pode ficar ainda mais complexa, uma vez que as plataformas começam a mirar no mercado que a emissora carioca sempre dominou com folga: as novelas.

A Netflix é o player com maior capacidade de roubar audiência da TV aberta. Um dos primeiros atores que preferiu não renovar o contrato com a Globo e fechar com o streaming foi Marco Pigossi. Poucos meses depois, ele já era protagonista da série australiana “Tidelands”, bem sucedida produção de fantasia que virou febre entre os jovens e lhe rendeu fama internacional. Mais recentemente, o ator retornou ao Brasil para protagonizar a série “Cidade Invisível”, criação de Carlos Saldanha (“Era do Gelo”, “Rio”) inspirada nos mitos do folclore brasileiro. Com o sucesso, a segunda temporada da série já foi confirmada – mais uma prova de que há mercado para quem decide apostar em produções originais brasileiras. É o caso de “Sintonia”, série cuja segunda temporada está disponível e que já tem uma terceira em pré-produção. É uma luz no fim do túnel para o setor, que enfrenta uma crise pesada desde que a Ancine foi sucateada pela administração federal.

SUCESSO “3%”, da Netflix: primeira série brasileira a se tornar uma das produções internacionais mais vistas na plataforma (Crédito:Divulgação)

Apesar de não ter um elenco fixo, a Netflix roubou uma série de nomes de peso que vieram da Globo: Sheron Menezzes, Bruna Marquezine, Camila Queiroz, Klebber Toledo, Bruno Gagliasso, Giovanna Lancellotti, Eduardo Moscovis e Camila Morgado, entre outros. “Essa possibilidade de criar em um novo lugar é muito sedutora. O streaming traz novidades e grandes possibilidades para todos. É um desafio que interessa aos atores, autores, produtores e até executivos”, afirma o autor e roteirista Raphael Montes.

Independência

Aos 31 anos, Montes já trabalhou em novelas como colaborador de grandes autores, como em “A Regra do Jogo” (2015), onde foi parceiro de João Emanuel Carneiro. O sistema de streaming, no entanto, lhe permite uma independência maior. Ao lado da roteirista Ilana Casoy, escreveu os filmes “A Menina Que Matou os Pais” e “O Menino Que Matou os Meus Pais” para a Amazon Prime, ambos inspirados no caso Suzane von Richtofen. Eles se tornaram os projetos brasileiros mais assistidos da plataforma. Na Netflix, a dupla roteirizou a série “Bom Dia, Verônica”, produção que já está com as gravações da segunda temporada em andamento. Montes é um dos principais nomes cotados para escrever e produzir as próximas telesséries do streaming. “Eu me sinto muito feliz e privilegiado por fazer parte desse processo. Escrever e contar histórias, seja na litertura ou no audiovisual, é uma responsabilidade muito grande.”

Enquanto a Amazon investe em filmes e a Netflix, em séries, a HBO Max está mais adiantada no processo de adaptação da teledramaturgia. Para isso, ela não apenas contratou um dos principais autores de novela da Globo, Silvio de Abreu, como tirou também a ex-diretora de desenvolvimento artístico da emissora, Mônica Albuquerque. A dupla será responsável por criar e desenvolver as telesséries — produções médias, de 50 capítulos, um formato mais curto que as novelas tradicionais, mas mais longo que as séries, cujas temporadas têm, em média, entre 8 e 12 episódios por temporada. Ambos estão em processo de montagem de suas salas de roteiro, grupos de roteiristas responsáveis por criar essas novas histórias. “Acreditamos na força do melodrama para atrair as audiências globais. Nosso objetivo é contar histórias com o ritmo das séries, com uma sólida estrutura narrativa e abordando temas relevantes e urgentes”, diz Mônica.

Assim como a HBO Max, a Amazon Prime também contratou dois ex-globais para serem “showrunners”, como são chamados os profissionais que criam, desenvolvem e dirigem séries no streaming: Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, atores populares na TV, já planejam novos projetos juntos. O novo filme de Lázaro como diretor já tem data marcada: será no longa “Um Ano Inesquecível — Outono”, que chega a Amazon em 2022. A seguir, cenas dos próximos capítulos serão cada vez mais comuns nas plataformas de streaming.

NETFLIX

Sua primeira telessérie será um remake de “Dona Beija”. A plataforma quer a atriz Grazi Massafera como protagonista

AMAZON PRIME

Além de contratar Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, a empresa investiu no filme “Peçanha Contra o Animal”,
do Porta dos Fundos

HBO MAX

Silvio de Abreu, autor de novelas na Globo há décadas, é a nova aposta para o núcleo de dramaturgia da gigante americana