AÇÃO Articulação política de economista Mario Draghi busca unir rivais na formação de novo gabinete (Crédito:Costas Baltas)

Enquanto tenta recuperar a economia e avançar na vacinação de pouco mais de 60 milhões de habitantes, as forças políticas na Itália buscam alternativas para pôr fim à crise institucional que se instaurou no país em meados de janeiro, quando Giuseppe Conte renunciou ao cargo de primeiro-ministro. A lacuna foi ocupada momentaneamente por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu entre 2011 e 2019, e sua continuidade no governo depende de como partidos antagonistas vão se posicionar em um momento de exceção. Draghi tem ido a campo para negociar. Mais do que propor, tem ouvido o que lideranças de siglas diversas têm a dizer sobre o cenário caótico que se apresenta. Ele não quer repetir os erros de Conte, criticado por centralizar os recursos destinados pela União Europeia para mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19. A situação para o ex-premiê tornou- se insustentável ao perder a maioria no Parlamento, em uma ação articulada pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, líder do partido Itália Viva.

“Draghi é uma personalidade de alto nível institucional e capaz de unir o país” Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália

A partir daí, Draghi entrou em ação. Tido como um dos responsáveis pelo fortalecimento do euro na última década, o banqueiro e economista busca reunir opositores em torno de uma gestão que possa tirar a Itália da crise econômica e social. O país teve queda do PIB de 8,8% em 2020, o que significou a maior contração já registrada na série histórica iniciada nos anos 1960. Para este ano, a expectativa é de crescimento de 4%, mas tudo vai depender do modo como o país conseguirá se recuperar dos efeitos da pandemia e de como utilizará a ajuda de 222 bilhões de euros vinda da União Europeia. A Itália soma mais de 2,7 milhões de casos de Covid-19 e 92 mil mortes.

Para evitar um cenário de desgaste no futuro e mudar a sina da política italiana recente – nos últimos 20 anos, foram nove trocas de comando entre os primeiros-ministros, Draghi tem buscado a conciliação e o diálogo. A ideia é reunir políticos de esquerda e direita em busca da reconstrução do país. O desfecho está próximo de ser positivo, mas tudo ainda depende de como vai se posicionar de maneira majoritária o Movimento 5 Estrelas, partido antissistema que detém a maioria no Parlamento, mas que ainda não disse se vai apoiar Draghi. O líder da sigla, Beppe Grillo disse que só vai definir um apoio formal à nova gestão quando o plano de um eventual governo Draghi for apresentado.

Interesse nacional

“Ao contrário de outros, não achamos que apenas dizer “não” nos leve a algum lugar. O melhor interesse do país deve vir antes de qualquer interesse pessoal ou partidário”, disse o senador de extrema-direita Matteo Salvini recentemente, em uma crítica a Grillo. Como contrapartida, o senador, que já foi vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, pode ganhar um ministério no futuro governo. Quem também já declarou apoio a Draghi é o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, líder do partido de centro-direita Forza Itália e que comandou o país entre 1994 e 2011. Enquanto espera uma definição do Movimento 5 Estrelas, o tabuleiro político italiano vai se movendo, mas a crise parece não estar perto do fim.